segunda-feira, 27 de junho de 2011

Parada Gay: deslizes dos afetados

Ontem estive na Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais e Transgêneros) em São Paulo, na boca do povo chamada apenas de “Parada Gay”. O evento estava debutando e, para comemorar os 15 anos, teve até valsa no encerramento. O 15º carro de som estava chegando no comecinho da Rua da Consolação quando anunciaram o Lago dos Cisnes em homenagem à data e, claro, a mais um ano de sucesso do evento. Até foi bonitinho ver o povo do arrastão dançar a música na pontinha dos pés atrás do caminhão... Tarefa muitíssimo árdua depois de se acabarem naqueles quilômetros todos entre a Paulista e a Praça Roosevelt, local da dispersão....
Refleti sobre várias coisas enquanto via o povarel descer a rua. Bom, começando pelo Lago dos Cisnes... Nada mais apropriado para fechar o evento. Conhecem o tema de O Lago dos Cisnes? A ópera de Tchaikovsky conta história de uma princesa que foi aprisionada no corpo de um cisne e que só poderia voltar à condição normal por um amor verdadeiro e único... Este amor, um belo príncipe, apareceu, mas a maldade humana somada à feitiçaria traçam artimanhas que roubam o amor da princesa e esta se torna cisne para sempre. Os dois morrem ao final...
Durante a parada, eu vi muitas Odettes (a personagem central da ópera). Homens e mulheres que conseguiram romper a carcaça do cisne e se mostrar para a vida como são de fato. Estes, ao contrário do que diz a ópera, venceram a maldade e subjulgaram os atabaques que eventualmente poderiam estar soando contra uma união ainda condenada por muita gente. Poxa, quem não gosta de ver a felicidade estampada no rosto das pessoas? De saber que o simples gesto de andar de mãos dadas pode representar a vitória sobre o fardo de toda uma vida infeliz, subjulgada? Vi jovens e vi velhos ostentando o carinho como a um troféu olímpico. E eu senti orgulho de saber que a minha cidade de coração (já que “adotei” Sampa como minha terra) abriu as portas para uma manifestação tão grandiosa e despretensiosa do ponto de vista comercial. Mais do que isso. Valorizando a vida e tudo o que de melhor ela oferece: o amor pleno, seja ele como for experimentado, vivido ou degustado. Justamente, este foi o tema da Parada Gay deste ano: “Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia”.
Vi muita brincadeira, muitos sorrisos, muita dança, acenos e beijos. Vi também olhares indignados, duvidosos e reflexivos. Normal. Faz parte. Acho que as pessoas, mais do que procurarem entender, aceitaram o que certas correntes da psicologia, da psicanálise ou seja lá o que for diz: a vida humana não comporta mais apenas dois sexos. Ou melhor, nunca comportou. O que vemos hoje é o emergir do terceiro, quarto sexo. Muitos dizem até algo como a “pansexualidade”. E por aí vai...
Eu aceito tudo isso numa boa, sem preconceitos. E sem querer ser moralista, falo também do “outro lado” da festa colorida deste domingo... Eu vi cenas que deixariam o povo de Sodoma e Gomorra no chinelo. E fiquei me questionando o por quê. Foram manifestações desnecessárias e que fugiam completamente do propósito do evento. Por exemplo: casais de meninos que se agarravam em beijos “arranca língua” em frente às senhoras em pé nas calçadas que ali se encontravam simplesmente para prestigiar o evento; rapazes com bundas de fora, ou abaixando as calças para o público e travestis que provocaram a plateia chacoalhando peitos inflados por silicone industrial (na maioria dos casos). Vi muita coisa assim que beirou o extremo da apelação, da provocação barata a pessoas que, como os participantes da Parada, dispostos a se divertirem e a avalizarem um contexto sublevado. Afinal, os mais turrões, os homofóbicos, não perderam mesmo o seu tempo para ver parada alguma.
Assim, o que me ocorreu é que, infelizmente, muitas daquelas pessoas não souberam fazer uma festa bacana. Não souberam se colocar, não tiveram classe alguma (e para isso não precisa ter dinheiro, basta ter educação, berço), não respeitaram para ser respeitados. Uma pena. Eu me lembrei das minhas calopsitas. Algumas vezes já abri a gaiola para elas voarem livres pela casa. Mas elas não saem da gaiola, não por não terem liberdade, mas por não saberem fazerem uso dela.
Então, resumindo, ainda tem muita Odette que merece o confinamento imposto pelas penas do cisne, pois não aprenderam a valorizar as asas que a vida já lhe concedeu!

Um beijo grande da Lorena Lee

sábado, 11 de junho de 2011

Milagres do Amor

O badalar do relógio o despertou para a realidade mais uma vez. Já eram 22h e havia perdido o sono, fato que passara a se repetir mais freqüentemente há algum tempo. Quanto? Ele não sabia dizer. Fernando ficava inebriado quando deixava-se levar a lugares tão distantes que sua memória, já corrompida pelo tempo, custava a resgatar todos os detalhes. Sentado em sua velha poltrona de couro, com os pés sobre o banquinho e uma manta a cobrir-lhe até a cintura, relembrava saudoso o dia mais importante de sua vida: seu baile de formatura, em 1939.

O tic-tac parecia embalar Fernando delicadamente de volta ao dia 10 de dezembro. O grande salão de festas estava lotado de gente bonita e divertida. E música boa. Fernando lembra quando a banda começou a tocar uma das mais pedidas: A Deusa da Minha Rua. Os rapazes logo trataram de tirar as garotas para dançar. Fernando era tímido e preferiu ficar de canto, tomando uma água gelada com gás e curtindo os colegas dançando animados com suas parceiras. Muitos deles, afinal, nunca mais iriam se encontrar. Outros, jamais se separariam, como Sérgio e Roberta, que se casaram dois anos após a formatura.

Carolina por pouco não foi ao baile. Como não tinha namorado, ficara sem par. Mas não era por falta de candidatos. A fila de garotos dispostos a assumir um compromisso com a bela jovem era grande. Acontece que Carol, como a chamavam, não se interessara por nenhum deles. Carol, em seus sonhos mais íntimos, tinha em mente a imagem do seu amor. Alto, forte, cabelos negros e fartos, olhos escuros, sorriso largo, falante, carinhoso e, o principal, bem-humorado. Porém, ela não conseguia ver em nenhum dos eventuais pretendentes o que idealizara. Quem sabe no baile? Carol rejeitou cinco convites. Pedro foi o sortudo. E quase desmaiou ao ver a bela moça ainda mais bela do que nunca.

Sua pele clara, cabelos e olhos castanhos, contrastavam muito bem com o vestido azul. Simples, mais requintado. Carol chamou a atenção de todos ao entrar no salão, com seu sorriso alvo e porte esguio. Pedro fazia de tudo para agradá-la, mas Carol logo deixou claro que não queria namoro. Aos 17 anos, ela nunca havia namorado e Pedro, definitivamente, não seria o primeiro. Após trocar confidências com as amigas e dançar bastante, a moça sentou-se perto da janela para ver dançando os poucos colegas formandos. Para ela, ainda faltava um ano.

A brisa fresca que entrava pela janela foi como um bálsamo para Carol, que havia se esbaldado com as amigas na pista de dança. Dançou até marchinha de carnaval, mas quando começou a seleção de lentas, preferiu sentar-se um pouco. Não estava disposta a dançar com nenhum daqueles meninos, apesar de conhecer e ser amiga de vários deles.

O copo de água já estava vazio. Fernando refletia em como aquele paletó estava lhe sufocando naquela noite quente. Ele estava com 18 anos e era a primeira vez que vestia uma roupa como aquela. Adorava dançar e não tinha parado ainda. Mas, na seleção de lentas, optou em retirar-se da pista. Quando a banda começou a tocar A Deusa da Minha Rua, Fernando achou melhor ir pegar um ponche. Mas, três passos dados, o rapaz ficou estático. A cena que vira parecia se encaixar perfeitamente nos versos da música: “A deusa da minha rua/Tem os olhos onde a lua/Costuma se embriagar/Nos seus olhos eu suponho/Que o sol, num dourado sonho/Vai claridade buscar”.

Seus olhos cruzaram outros brilhantes, eram os de Carol. Seus cabelos lisos, já um pouco soltos do penteado, lhe acariciavam suavemente o rosto com o vento que soprava pelas costas. Fernando ficou ali, parado, admirando a cena, que de tão perfeita lhe lembrou uma tela de Rembrandt. Quem era aquela moça, afinal? Na mesa, serviu-se de água. Paulo apareceu e Fernando logo lhe perguntou: “Você conhece aquela moça de vestido azul?”. “É a Carol, da turma da Ana!”, respondeu o outro. Fernando nunca havia reparado na moça. Muito menos em sua beleza. Mas naquele dia parecia que Carol havia emprestado a magia cintilante das estrelas.

Fernando tomou coragem, respirou fundo e foi em direção à moça. Se apresentou e perguntou se ela gostaria de dançar a próxima música com ele. Com o rosto cheio de rubor, Carol aceitou o convite do rapaz. Ela, sim, já havia visto Fernando algumas vezes com amigos de sua prima Ana, na escola. Mas nunca chegaram a conversar. Tímida, Carol achava Fernando “adulto” demais. Esperou ansiosa o início da próxima dança, quando o mundo se tornou pequeno demais para ambos.

Carol e Fernando bailaram juntos até o final da noite, como um casal de bonecos numa caixinha de música. Eram só os dois, num chão espelhado, conduzidos por acordes doces e sentimentais. O rapaz jamais esqueceu o toque delicado das mãos da moça. Seu perfume lembrava as rosas do jardim de sua casa. Aliás, Carol, tal como uma rosa, desabrochava para a vida. E exalava o frescor da juventude e a felicidade em ver materializado seu príncipe, talhado mentalmente desde a infância. Fernando a conduziu pelo salão como um cavaleiro encantado com sua nova medalha. Com mãos firmes, porém macias, passo certo no compasso, o rapaz se sentia flutuar. Carol era a mulher de sua vida. À primeira vista, já teve esta certeza.

23 horas. Fim do baile. Sr. Antônio já havia estacionado seu reluzente Chevrolet Coupé à frente do clube. Carol não poderia deixar seu pai esperando senão era bronca na certa. E das grandes. Contudo, aproveitou cada segundo antes da despedida. Tudo parecia ser um sonho. Marcaram novo encontro, na escola mesmo. E, na despedida, um beijo delicado selaria para sempre o amor nos corações de Fernando e Carol.

Verônica não reclamou quando sua chefe, a Sara, disse que ela havia sido escalada para trabalhar no dia de Natal. No fundo, ficou feliz apenas com a possibilidade de trabalhar. Após sete meses desempregada, a jovem viu suas economias serem consumidas pelas contas. E ela sabia que não podia contar com a ajuda de quase ninguém. O dinheiro havia acabado exatamente quando recebeu um convite de trabalho, numa casa de repouso. O salário não era ruim e ela iria fazer o que mais gostava, cuidar de pessoas, em especial de velhinhos. Ao desligar o telefone, um mês antes, Verônica se ajoelhou e agradeceu a Deus pela oportunidade. Seria seu presente de Natal.

Naquele dia 24, Verônica, sempre muito atenciosa, foi de quarto em quarto. A cada interno, deu um presentinho. Coisas simples, a maioria artesanato que ela própria fazia. Os velhinhos ficaram exultantes. Eles adoravam a moça e o carinho imenso que ela lhes dedicava diariamente. Além disso, para muitos deles, aquele seria o único presente e cumprimento de Natal. É que muitas famílias simplesmente achavam mais confortável manter seus idosos numa casa de repouso, pagando as contas, mas os mantendo fora do alcance dos olhos.


Sr. Fernando não podia reclamar, estava ali por sua própria vontade. Os dois filhos sempre o visitavam com os netinhos. Ele era um encanto e o preferido de Verônica. Era amável, culto e viajado. E Verônica adorava ouvir suas histórias, sempre ricas em detalhes e cores. Apesar de tudo o que vivera, sr. Fernando era um homem cheio de fé. Alegre e bem-humorado. Quando Verônica entrou em seu quarto e lhe deu um porta-retrato que ela mesma havia feito, em madeira e pintado à mão, sr. Fernando ficou tão feliz que uma lágrima insistiu em brotar em seus olhos. Rapidamente, ele foi até a estante e pegou um livro. Era Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade.

Ao entregá-lo a Verônica, disse que aquele livro lhe era muito especial e o havia acompanhado por quase toda a vida. Naqueles versos de seu poeta predileto, sr. Fernando declarou reencontrar diariamente o seu amor. E, agora, queria lhe dar como presente. “Estou lhe presenteando com o melhor de mim”, disse ao entregar o livro. Verônica não entendeu direito o significado de tudo aquilo, mas se sentiu profundamente lisonjeada.

À noite, Verônica decidiu folhear as páginas amareladas daquele raro exemplar. Em 1930, apenas 500 volumes haviam sido impressos e aquele era um deles. Ao abri-lo, Verônica percebeu uma carta dobrada no meio do livro. Letras simetricamente traçadas diziam o seguinte: “Minha querida, hoje eu sei que sonhos, se sonhados com carinho e fé, se tornam realidade. Soube que seria minha no momento em que a vi. Quando segurei sua mão pela primeira vez, tive a certeza de que Deus havia me enviado uma flor rara e com o brilho das estrelas para iluminar todos os dias de minha vida; com a leveza dos anjos, para amenizar os contratempos do caminho; e com o perfume mágico do amor, para me aconchegar na felicidade plena e inesgotável. Eu agradeço a Deus todos os dias por ter você ao meu lado e vou fazê-lo até o último instante de meu tempo aqui na Terra. Pois você, meu amor, é a prova viva de que Deus existe. E que eu sou um de seus filhos. Do seu grande admirador e eternamente apaixonado, Fernando. Com amor”.

Verônica não conseguiu folhear mais nenhuma outra página. Nas últimas linhas, não conseguiu segurar o choro. Era a coisa mais linda que lera nos últimos tempos. Releu aquela carta mais umas três vezes. Fechou o livro e adormeceu pensando em Sr. Fernando. Nos dias seguintes, passou a levar o livro consigo para ler no caminho, mas a carta havia guardado para devolvê-la a Sr. Fernando. Não conhecia Drummond, mas se encantou com o poeta. Como era época de festas, não teve tempo de entregar a carta ao amigo, nem sequer pode conversar com ele, já que havia mudado de turno.

Era dia 2 de janeiro de 1981. Verônica estava animada. Como voltara ao período diurno, estava ansiosa para conversar com Sr. Fernando. Queria saber mais sobre a carta, datada de 9 de junho de 1941. Chegou apressada ao Lar Santana, no alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Assim que colocou o uniforme, pôs a carta no bolso e seguiu com passos largos até o quarto de Sr. Fernando. Bateu à porta e abriu devagarzinho, como fazia todos os dias. Um arrepio lhe percorreu a espinha ao ver a cama arrumada de Sr. Fernando. As cortinas abertas deixavam os primeiros raios de sol entrar e iluminar o ambiente. Vazio. Neste momento, Solange se aproximou. Uma troca de olhares foi o suficiente para saber que Sr. Fernando havia partido. Verônica fez uma oração em silêncio.

Vinte e cinco anos se passaram. Vanessa estava em férias e, agora que havia concluído a faculdade de Medicina, queria aproveitar para fazer uma boa limpeza em casa antes de começar a fazer estágio no hospital. Havia se formado como médica geriatra, gosto pela profissão que herdou da mãe, já aposentada havia vários anos. E foi justamente pelo quarto de Dona Verônica que Vanessa começou o que chamava de “bota-fora”. Todos os anos, elas faziam a mesma coisa: roupas, jornais, revistas, livros e outros objetos sem utilidade, doavam para instituições de caridade. E foi em uma das gavetas da antiga cômoda que Vanessa encontrou o livro de Carlos Drummond de Andrade. E, como sua mãe, ficou surpresa ao ver a carta. Correu para saber do que se tratava.

Dona Verônica lhe contou tudo detalhadamente.

Vanessa achou a história incrível. Durante dias ficou pensando no romance entre Fernando e Carol. O que teria acontecido? Haviam namorado, casado ou teria sido apenas uma paixão platônica? Como estava de folga naqueles dias, decidiu ir com a mãe até o Lar Santana. Lá chegando, conversou com a Irmã Superiora, que lembrava muito bem de Sr. Fernando. E concordou, não sem muita insistência por parte de Vanessa, em contar a história do simpático velhinho e tentar achar seus registros.

Para surpresa de Verônica e Vanessa, Sr. Fernando havia, sim, se casado com Carol. Isso foi em junho de 1941. Em março do ano seguinte, Carol deu à luz Gustavo. Em agosto, Fernando foi convocado para a Segunda Guerra Mundial, faria parte de um pelotão de 25 mil homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que desembarcou em Nápoles, na Itália, para lutar contra a Alemanha e a Itália. Nesta época, o casal não sabia, mas Carol já estava grávida de três meses do segundo filho. Quando Maria Eduarda nasceu, em fevereiro de 1943, Carol entrou numa profunda crise de depressão.

A família decidiu mudar para Campos do Jordão, para ver se os ares do campo ajudavam na recuperação da jovem senhora. Deprimida, doente e apática, Sr. Antônio e Dona Maria decidiram internar a filha em uma casa de repouso, ali em Campos mesmo. Mas o que era para ser breve, demorou mais do que o previsto. Mais uma vez, Sr. Antônio, empresário aposentado, decidiu levar toda a família para sua terra natal: Portugal. Na terra dos pais, na região do Minho, Carol morou com os filhos por quase 20 anos.

Quando Fernando retornou ao Brasil, em 1945 - revelou a Irmã Superiora à Vanessa e Verônica -, soube por um parente distante de Carol que a família, acreditando em sua morte na guerra, havia se mudado para Campos do Jordão. E que Carol estava, àquela época, muito doente. Ele decidiu ir a Campos, lá soube que, mais uma vez, a família da esposa havia se mudado para Portugal. E que Carol estava em estado “grave” de saúde. Uma antiga vizinha chegou mesmo a garantir a Fernando que sua Carol havia morrido. Tomado pela tristeza e pela dor da perda da família, Fernando sofreu durante anos. Mal chegou a desfrutar a alegria do casamento e, ao menos, conviver com os filhos. A mais nova, nem conheceu. Mas casou-se novamente com Ana, teve mais dois filhos: Otávio e Carolina (nome em homenagem à esposa).

Porém, Fernando logo ficou viúvo. Não se casou novamente. Com os filhos crescidos e casados, não quis atrapalhar. Ele mesmo decidiu morar no Lar Santana. Apesar dos percalços da vida, Fernando nunca se deixou abater pela tristeza. Às vezes, disse a freira, ele ficava triste. Mas ia à capela, rezava, e logo podia-se ouvi-lo assobiando feliz pelos corredores. “Minha fé enche o meu espírito de alegria todos os dias”, falava o velho de cabelos brancos e sorriso bonito.

Segundo a Irmã, Sr. Fernando procurou até quando pode encontrar sua família. Mesmo depois de casado. Ana, sua esposa, era muito compreensiva e doce. E nunca limitou este desejo do marido, pelo contrário, sempre o incentivou. Vanessa pediu à Irmã Superiora todos os nomes da família do Sr. Fernando. Disse, animada, que conhecia um site que encontrava pessoas. Foi o que ela fez. Durante meses, Vanessa chegava do hospital e ficava na internet, falando com um e com outro. Formou uma grande rede de amigos. Todos se sensibilizaram com a história de Fernando e Carol.

Até que na manhã de 23 de dezembro de 2006 um e-mail chegou em sua caixa postal. Pelo assunto, “Conseguimos”, Vanessa já tremeu de emoção. Enquanto abria o documento, gritou desesperada pela mãe.

Nivaldo, o diretor de um site de busca, lhe enviou a seguinte mensagem: “Cara, Vanessa. É com muita emoção que lhe dou esta notícia. Depois de muita procura, conseguimos, enfim, localizar a família de Dona Carolina. Moram todos no Alto da Lapa, na zona oeste da capital paulista. E para nossa alegria maior, dona Carolina está viva, lúcida e bem de saúde. Estamos muito felizes porque, depois de todos estes meses, Fernando e Carolina passaram a ser íntimos de todos nós. Nos comoveram e passaram ao mundo uma grande história de amor, que sobrepujou ao tempo, os obstáculos e a distância. E se mostrou eterno. Parabéns pela iniciativa e por nos fazer parte desta história também. Nivaldo”.

Vanessa e Verônica choraram abraçadas por vários minutos. A moça anotou rapidamente o endereço enviado por Nivaldo. Nem foi trabalhar, pegou o carro e saiu em disparada para o outro lado da cidade. Com um frio na barriga tocou a campanhia de uma casa antiga, porém ampla e muito bonita, bem perto do Parque Villa Lobos. A empregada veio atender; ela explicou o caso, mas a mocinha não entendeu muito bem. Entrou e voltou com Maria Eduarda, que trazia no colo o pequeno Miguel. Novamente, Vanessa se apresentou e logo tirou da bolsa a carta. Entregou a Maria Eduarda, que terminou de ler tomada pela emoção. A moça convidou mãe e filha para entrarem. Na sala, uma velhinha simpática, com a pele bem cuidada e os cabelos lisos presos em um coque, fazia crochê num confortável sofá, ao lado de uma grande árvore de Natal. Ela sorriu ao ver as visitas entrando.
Uma carta de amor... que chegou
 com 65 anos de atraso

Maria Eduarda, com cuidado, explicou quem eram as duas. Dona Carol não podia acreditar no que ouvia. Lhe entregaram a carta. Ela leu e chorou. Depois sorriu. Vanessa e Verônica, então, começaram a contar toda a vida de sr. Fernando. Que ele não havia morrido na guerra e que, quando retornou ao Brasil, foi induzido a acreditar que ela havia morrido. Mas que, mesmo assim, não acreditando, a procurou e aos filhos enquanto pode.

Apesar disso tudo, foi um homem feliz. Não se deixou corromper pela amargura. Sua alegria de viver contagiava a todos que o rodeavam. E que seu amor por ela o acompanhou até o último instante. E, apesar de o destino tê-los separado muito cedo, uma força maior os uniu por toda a vida, a ponto de terem sido vizinhos de bairro durante décadas sem saber.

“Eu nunca duvidei do nosso amor. Sempre soube que seria eterno. Eu e Fernando somos uma única alma, tenho certeza. Não houve um dia, em toda a minha vida, que deixei de sentir sua presença. Fernando sempre esteve ao meu lado. E foi isso que me deu força para viver bem e feliz até hoje”, afirmou tranqüila, Dona Carol.

Neste momento, ela se levantou e foi até a árvore de Natal. Escolheu o melhor lugar e colocou com cuidado a carta de Fernando. Uma carta que ele havia escrito para ela, mas que nunca chegou a lhe entregar. Talvez porque esta mesma “força maior que os uniu”, achou melhor assim. Esta carta não era de fato para Carol, mas, sim, para o mundo. Para que todos pudessem conhecer a história de Fernando e Carol. E nunca duvidar da força e da magia de um grande amor.

Dois meses após ler a carta de amor de Fernando, Carol faleceu enquanto dormia.

* Inspirado em uma história real.

** Este conto foi o vencedor do primeiro concurso de contos do site BrasilWiki.


                                                        OoO

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mulher, Mulher

"...sempre quis um amor que me coubesse futuro..."
Românticas por natureza, a maioria das Mulheres elenca coisas simples no ranking essencial para a felicidade. E o amor sempre está ali, na primeira colocação. Claro que há aquelas que elegem conforto, luxo e dinheiro como fatores mais importantes; sempre há exceções e, claro, quem goste disso obviamente.

Mas voltanto à maioria... as Mulheres trazem em seu DNA a docilidade, o gosto de gostar, a ansia pelo amor. Aquele que liga para dizer "bom dia", que pergunta como está, que se preocupa. Coisas assim, muito simples, fazem uma Mulher feliz. Mulheres são capazes de trocar o que puderem para ter uma tarde ao lado do seu amor, na rede, fazendo um cafuné. Aliás, ficam felizes com esta possibilidade, a de doar amor. Mas também gostam de ser amadas.

Gostam de ganhar uma rosa no domingo, de um beijo carinhoso, de serem chamadas de "meu bem"! Mais do que ganhar um presente, gostam de ser lembradas no dia do aniversário, e em todos os outros aniversários, de namoro, casamento, caso etc... Os homens nunca lembram, e a Mulher sempre perdoa o seu amor diante de um pedido de desculpas.

Mulheres gostam de acarinhar seu homem - ou sua fêmea - , de fazer massagens nos pés, no corpo... de sentir a pele macia contra a sua. Gostam de fazer seu par chegar ao ápice do prazer com seus toques e carícias. E gostam mais ainda de saber que o carinho que recebem é sincero. Gostam de fazer com que seu amor se sinta o mais importante entre todos os demais. Gostam, enfim, de tratar seu homem como rei - e suas mulheres como rainhas. Mas também querem sentir que são suas princesas...

Mulheres são seres complicados, complexos, todos sabemos. Mas são os seres mais fáceis de conquistar. Basta se sentirem amadas com sinceridade. E o caminho da conquista é um propósito fascinante e altamente recompensador para ambas as partes. Pois este é o caminho do amor. E é só com amor no coração que todos os demais projetos ganham uma fluidez sem igual. "Com amor se vai ao longe", disse um poeta. E é verdade. A energia transmuta, as relações mudam e o nosso dia-a-dia fica muito mais gostoso.

Sorte dos que entendem o espírito de uma mulher... Será o ser mais feliz entre todos porque terá o mundo (e um pouco mais) a seus pés!

A Elas, um doce poema da doce Elisa Lucinda; ele resume tudo isso que disse acima:

Da chegada do amor

Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.

Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.

Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.

Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.

Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.

Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.

Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.

Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.

Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.

Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.

Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.

Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.

Sem senãos.

Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.

Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.

Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.

Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.

Sempre quis um amor não omisso
e que suas estórias me contasse.

Ah, eu sempre quis uma amor que amasse.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Pela Janela

Olhando pela janela, o sol brilhava lá fora. Mas o coração estava gelado. Nevava. Os sonhos, porém, ah... estes eram os melhores...

domingo, 22 de maio de 2011

Reencontro

Não vale adiantar o relógio
Não vale enganar o calendário
Mas vale sonhar...
Com o dia que vou te reencontrar
Boa noite!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

À espera do amor

Recontei o tempo,
andei pra trás,
colecionei os dias e as noites.

Atrasei as horas,
segurei as nuvens,
troquei as estações.

Plantei cata-ventos,
prosei com bem-te-vis,
chorei com beija-flores.

Reguei a saudade
e cochilei em suas sombras.
Subi mangueiras
entardecidas de espera.

No quintal,
apanhei um pé de palavras
e arranjei uns versos
silvestres no vaso.
Sentei na soleira da porta
e desenhei seu nome na terra.

Poli a lua,
dei corda nas estrelas,
arrumei o céu.
Debrucei meu coração na janela,
até meu peito ficar marcado
pela dor da espera.

(autor desconhecido)

domingo, 15 de maio de 2011

Inspirada

Ao apagar luz, ela tinha uma certeza. A letra da música não era ficção. Seu coração batia feliz, sem saber o porquê. Inspiração, de certo.

Jamais te amei tanto...

Emoção que inspira artistas, escritores e poetas de todos os tempos, de todos os cantos do planeta, o amor já resultou na criação de magníficas obras. Como este poema do dramaturgo alemão Bertold Brecht.

Jamais te amei tanto, ma soeur
Como ao te deixar naquele pôr do sol
O bosque me engoliu, o bosque azul, ma soeur
Sobre o qual sempre ficavam as estrelas pálidas
No Oeste.
Eu ri bem pouco, não ri, ma soeur
Eu que brincava ao encontro do destino negro
Enquanto os rostos atrás de mim lentamente
Iam desaparecendo no anoitecer do bosque azul.
Tudo foi belo nessa tarde única, ma soeur
Jamais igual, antes ou depois
É verdade que me ficaram apenas os pássaros
Que à noite sentem fome no negro céu.


(Bertold Brecht)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Silêncio Corrompido

É no encontro do seu corpo
Que encontro meu corpo
Inteiro

Pele que arde
Dor que alivia
Tesão

Sentir seu cheiro
Seu peso
Toque

No silêncio,
Gemidos que corrompem
Movimentos

Com intensidade
Descubro o caminho
De volta para você

Prazer
Seu
Meu

Quero você
De novo
E sempre

domingo, 8 de maio de 2011

Mais


Ah, amor meu
Quanto mais te espero
Mais tenho vontade de ti

Ah, amor meu
Quanto mais sonho com o reencontro
Mais o tesão me arrepia a pele

Ah, amor meu
Quanto mais lembro do teu sexo
Mais queimam minhas entranhas

Ah, amor meu
Quanto mais toco no meu sexo
Mais teu sexo eu desejo
Ah, amor meu
Quanto mais na minha boca
Mais me deixas louca

Ah, amor meu
Quanto mais vais e volta
Mais eu te sinto dentro de mim

Ah, amor meu
Quanto mais...
Desejo
Ardente
Toque
Forte
Boca
Sexo
Seu
Meu
Mais te quero...

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Inspiração

Entre o ser triste e o ser feliz,
entre a dúvida e a certeza,
está o se apaixonar pela mesma pessoa
todas as vezes...

terça-feira, 3 de maio de 2011

A máquina de beijar


Quem está assistindo a novela da Globo, Morde & Assopra, e acha muita fantasia a história do cientista que criou uma boneca-robô em homenagem à ex-mulher que desapareceu, tem de ler essa matéria.

No Japão, o laboratório Kajimoto, da Universidade Japonesa de Comunicações Eletrônicas, anunciou o desenvolvimento de uma máquina que reproduz o beijo humano. A ideia é proporcionar a sensação do beijo, a partir de um equipamento interligado a um software. Primeiro, capta-se os movimentos da boca de uma pessoa e, depois, eles são reproduzidos na boca de outra, a distância.

Olha, é a solução para casais que viajam muito a trabalho e acabam se distanciando. Ou para os que namoram pela internet, óbvio. Na verdade, é mais a mulher que sente falta de beijo na boca. Homem quer mesmo é transar e ponto. Ou estou errada?

Bom os cientistas japoneses estão aperfeiçoando a criação, que, até o momento, reproduz unicamente os movimentos da língua e dos lábios. Agora, querem chegar quase à perfeição do beijo incluindo sabor, respiração e a textura da língua. Será que conseguem? O que você acha? Você beijaria uma máquina na falta do gato (a)????

Bom, eu nunca escondi o meu tesão pelo George Cloney. E eu o beijaria muito, nem que fosse através de uma máquina... Ué, que me atire pedras a mulher que nunca imaginou estar transando com o Brad Pit, por exemplo. E que me jogue ovos o cara que nunca “levou para a cama” uma Scarlett Johansson, uma Jessica Alba ou até mesmo uma saltitante Shakira...



E, já que estamos no assunto:

Um beiijooo da Lorena Lee!!!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Descubra o Ponto G da sua sogra em 15 dicas

Hoje, 28 de abril, é Dia da Sogra! Amada e (muito mais) odiada por genros e noras em milhares de idiomas, dialetos, posições geográficas e credos. Não tem jeito. Elas são alvo constante de xingamentos descontentamentos de toda a espécie. Então, vamos combinar que elas, melhor do que ninguém, merecem, sim, uma dia especial (longe de você), homenagens e etc... Mesmo porque, no final das contas, quem mesmo que pariu o rebento ou rebenta que você tanto ama? Hein??? Mas que tal aproveitar esse dia para tentar melhorar essa relação com a dona?

Vamos às 15 dicas básicas para se dar bem e de maneira politicamente correta com a jararaca sogrinha. E ganhar muitos pontos nesta relação:

- Seja educado (a). "Bom Dia", "Boa Tarde" e "Boa Noite", vai sempre muito bem. Seguido por um cumprimento ou um beijinho na face (por que não, oras?)
- Seja inteligente, falar mal dela para o amado (a) não vai levar a lugar nenhum, apenas desperar a ira do parceiro (a) e brigas intermináveis. Afinal a cobra  mãe do gato (a) sempre terá razão nessa relação.
- Elogie a comida dela!
- Elogie a roupa do domingo e as flores da sala. Melhor, aproveite a tarde de domingo e a leve a uma feira de orquídeas. Velhas malas Senhoras adoram esse tipo de programinha monótono.- Se ofereça para lavar a louça (vai ganhar 10 pontos com isso).
 - Ajude a retirar a mesa do almoço/jantar. E não só aos domingos. Sempre.
- Se interesse pela toalhinha de crochê que ela está fazendo!!!
- Nunca se esqueça: ela pode xingar o filho (a). Você NUNCA.
- Nunca fale demais. Emita opiniões pontuais.
- JAMAIS fale mal dela para parentes (especialmente dele (a)) e amigos.
- Elogie o café dela. De preferência, diga que é o melhor do mundo!!! Você não toma café??? Dançou, volte dez casas!!!
- Quando a sogra estiver dodói, ligue para saber da saúde dela. TODO DIA!!!
- Vá à feira com ela. Ajude a escolher frutas e verduras. Carregue a sacola.
- NUNCA, JAMAIS esqueça a data do aniversário dela. Afinal, sogra é da espécie "mulher" e mulheres a-do-ram ser lembradas. Sim, sogra é mulher!!!
- Por último, elogie sempre e pontualmente o filhinho (a), sua educação, beleza e, principalmente, educação.Afinal, a responsável por tudo isso foi ela, não?

BOA SORTE!!!

Beijo da Lorena Lee

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A sete dias da morte


Um amigo meu disse esses dias que se tivesse uma semana de vida queria transar com algumas pessoas. A bem da verdade, acho que o desejo dele seria morrer cercado por centenas de mulheres de todos os tipos, trepando como louco com todas elas, mesmo sem saber quem são e o que poderiam lhe oferecer caso Deus mudasse de ideia e o deixasse vivo. É que ele faz o tipo que sexo é sexo, e quanto mais, melhor. Nada de carinho ou afeto, isso não é importante. Feliz mesmo ele morreria com algo do tipo Sodoma e Gomorra, experimentado as mais diversas formas de prazer e enfartado com orgasmos múltiplos. Isso seria o retrato ideal para sua última semana. Entretanto, talvez meu amigo morresse de congestão sexual antes mesmo do prazo final divino estipulado para sua pessoa.

Sabe, eu fiquei pensando o que faria se soubesse que iria morrer em uma semana. Gostaria de ter algum tempo com o homem que amo. Gostaria de dizer “Eu te amo”. Acho que muita gente morre sem dizer isso, ou sem ter pra quem dizer, o que é o mais chato e triste. No entanto, o melhor seria passar não com quem eu amasse, mas com quem me ama de verdade. Gostaria de senti-lo tocando meu corpo como se fosse pedaços de algodão, os meus cabelos, como fios de seda e que ele pudesse guardar o cheiro de minha pele sempre na memória. Queria dormir mais vezes de conchinha, sentir a respiração lenta do meu homem, tocar seu corpo repousando e senti-lo acordar devagarinho. Que lembrasse de minha voz como uma música alegre aos ouvidos, que jamais esquecesse de minhas mãos lhe tocando, acariciando e que o meu sorriso lhe servisse de inspiração para amar de novo.

Enfim, gostaria de deixar uma boa recordação a quem me dedicou amor.

Iria encher minha casa de margaridas, girassóis, angélicas e lírios. Iria deixar minhas calopsitas voarem pela casa à vontade. Levaria meu cachorro para correr na grama e jogaria a bolinha pra ele pegar até que “ele” cansasse. Iria passear no parque de mãos dadas, comer muita jujuba, brigadeiro e sorvete. Andaria bicicleta entre árvores, dormiria na sombra na um ipê amarelo.

Se eu fosse morrer em uma semana, faria um churrasco e convidaria a todos os meus amigos. Iria tomar muita caipirinha de maracujá e cerveja. Dançaria até um pagodinho. Iria a um orfanato e beijaria todas as crianças como se fossem meus filhos. Depois iria a um asilo e beijaria a testa de todos os velhinhos como se fossem meus avós. Pediria a benção ao meu pai pela última vez. Iria ao salão pintaria as unhas à francesa, faria uma escova no cabelo e daria muita risada de todas aquelas bobagens que a gente ouve da mulherada.

No Mercado Municipal, passaria uma tarde sentindo o aroma de todas as frutas, flores e especiarias. São estas as sensações e emoções que desejo levar para a eternidade. Pegaria um avião e voaria para a Polinésia Francesa. Na areia branquinha da praia, ficaria um bom tempo ouvindo o barulho das ondas. Deixaria o sol bater no meu rosto e aquecer minha pele. Tomaria muita água de coco gelada. Faria uma prece de agradecimento ao pôr-do-sol. E, pela última vez, dormiria abraçada a um travesseiro de plumas de ganso, sozinha e com o coração cheio de amor.

E você, o que faria?

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Versando a vida

Eu sou uma romântica inveterada, pode até não parecer, mas sou. Como o meu talento para fazer de minhas emoções poesia permanece obscuro em algum lugar de minha mente ainda inacessível, busco encontrar doses de meus sentimentos cadenciados em prosa e verso em poemas que não são meus. Gosto de ler estes poemas em voz alta e ao dar som a métricas tão delicadamente cadenciadas, gosto de lembrar de meus amores, do meu amor. E sentir como se encaixam em cada rima, em cada verso... Isto fala ao meu coração e me inspira. Sempre.

O poema tem o poder de despertar emoções desconhecidas, pode nos fazer rir, chorar, acreditar, enxergar, desistir.... E, também, pode nos fazer perceber que o amor ainda está ali, num cantinho qualquer do coração, disfarçado de paisagem nórdica. Mas se mantém firme, apesar do rigor do inverno. Porque é amor de verdade. E quando é assim, vale a pena sucumbir às adversidades e esperar. Quanto tempo? Não sei. Quem sabe?

Mia Couto é natural da Beira, Moçambique. É considerado um dos nomes mais importantes da nova geração de escritores africanos de língua portuguesa. Escreve com paixão. Sua primeira obra foi lançada em 1983: A Raiz de Orvalho. Vencedor de vários prémios, já teve sua obra traduzida para o alemão, castelhano, francês, inglês, italiano, neerlandês, norueguês e sueco.

E é de sua autoria um de meus poemas prediletos:

Confidência

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome

(Mia Couto)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Quando o sexo vira piada

Amsterdã é uma coisa de louco. Mesmo com uma agenda atribulada de trabalho, é IM-POS-SÍ-VEL deixar de aproveitar a cidade nem que seja por umas horinhas apenas. E diversão e Amsterdã são praticamente sinônimos. Isso foi há muitos anos, era ainda uma estagiária descobrindo a vida e o mundo. Passeando pelas ruelas movimentadas daquele antro delicioso do sexo, me diverti muito sozinha. Entre pintos de borracha que saltitavam agarrados a molas nas vitrines, vi em uma delas uma cueca de elefante cor-de-rosa. Com os olhos estatelados de emoção, entrei na loja  e m p o l g a d í s s i m a  com a “novidade” (para mim era, né?). Achei tudo de bom, maravilhosa e já fiquei imaginando o meu Gostoso fazendo a tromba do elefante subir e descer... Já tinha comprado umas cuecas samba-canção na Tie Rack de Londres para o fofo, mas não chegavam ao pé daquela "selvagem" cueca. Tinha de banana, cenoura, revólver, mas eu gostei mesmo da do elefantinho, com trombas e orelhas. Para mim, comprei uma sensual camisola vermelha, curtinha e com pluminhas na gola e nos lacinhos da calcinha.

Chegando ao Brasil, louca por uma noite daquelas pra matar a saudade, fomos para o motel. Botei minha nova paramenta sensual e dei o presentinho pro namorado. Ele olhou, olhou.... “O que é isso?”, perguntou. “Oras, uma cueca, pra esquentar nossa noite.” Santa inocência, Batman!!!! Onde eu estava com a cabeça em achar que aquilo poderia apimentar algum tipo de sexo. Toda vez que aquela tromba se mexia, era um ataque de risos. Passei mal de tanto rir. Ele, coitado, até que se segurou um pouco. Devia estar me achando meio estranha quando ganhou o presente, mas deve ter pensado que “era coisa de mulher”. Até hoje, quando me lembro daquela tromba agonizando pra ficar na vertical, não consigo conter o riso.

Esse é o problema de alguns desses brinquedinhos. Eles podem realmente se transformar num brinquedo e você ficar na cama como se estivesse com seu irmão. Brincando, brincando.... É como aqueles abomináveis dadinhos de posições. Quem nunca teve um daquele??? Eu tive, veio na mala numa viagem que fiz à Argentina. Entrei num sex shop, tirando os vibradores, a loja estava repleta de lingeries de um mau gosto inacreditável. Escolada que estava eu depois daquele maldito elefantinho, comprei apenas um dadinho. Adivinha??? Pôxa, tinha posição ali que nem no "Kama Sutra" eu vi. Vai se catar. Mais uma vez, minha "surpresinha" de viagem desceu ladeira abaixo – literalmente. Quase me enforquei com a própria perna. Dadinho nunca mais.

A dica é, pense bem antes de comprar um adereço erótico. Pode virar uma piada na cama e você ficar na mão. E, cá entre nós, fico imaginando se essa empolgação chinesa na produção de material erótico chegar ao Brasil, os cuidados com a segurança devem ser redobrados. Senão, será como a piada da velhinha que comprou um vibrador e foi parar no pronto-socorro por não conseguir tirar o tal objeto fálico de dentro da dita “usuária” do mesmo. A velhinha gemia, gemia como louca. Os enfermeiros, depois de algum esforço e consternados, arrancaram o vibrador da gulosa. A velha gritou, brigou. Eles, imaginando que a tivessem machucado, pediram desculpas. A velhinha, muito brava, ordenou: “E não demorem pra trocar as pilhas, senão eu corto vocês ao meio com o bisturi!!!”.     

Pois é, a piadinha pode até ser fraquinha, mas sexo tem de ter alguma escala de diversão. Mesmo que não haja brinquedinho nenhum por perto, o humor tem de ser um dos ingredientes básicos. Juntando mais doses fartas de tesão, carinho e boas pegadas, nada é comparável.


Divertam-se.


terça-feira, 19 de abril de 2011

Vibradores, brinquedinhos eróticos e outras histórias

É engraçado. Os analistas em comportamento humano sempre usam algum argumento pouco convincente para explicar porque o ser humano, quando se encontra limitado de um lado, descamba por outro. “É seu inconsciente buscando uma fuga de algo que te limita e que você ainda não aceitou.” Nunca consegui me dar bem com meus analistas... Porém, há alguma razão no que dizem, afinal estudam anos a fio justamente para nos apontar um caminho, uma visão diferente da nossa obscuridade cognitiva.

Eu, confesso, também tenho predileção em observar o comportamento humano. É incrível o que você descobre. Bom, mas vamos aos fatos. Eu já sabia que os japoneses – as japonesas em especial – são bem safadinhos. Mas os chineses me surpreenderam com esta notícia. A de que eles pagam um pau por brinquedinhos eróticos de todos os tipos, marcas, tamanhos e cores. Os brasileiros que se cuidem.

Li uma notícia sobre a Feira Internacional de Brinquedos para Adultos de Xangai, algo como a Erótica Fair, realizada em São Paulo. Mas a nossa versão brasileira é pequena e ainda deixa muito a desejar aos consumidores mais exigentes. Descobri que o mercado do sexo e do lazer para adultos na China é um ramo cada vez mais rentável e em plena expansão, arrecada algo que beira os 40 bilhões de iuanes (cerca de US$ 6 bilhões). Todo este movimento financeiro, dizem os especialistas, tem ajudado a quebrar alguns tabus da careta sociedade chinesa. É o poder do dindim. Só por curiosidade, um dos atrativos que esta feira já exibiu foi uma coleção de 300 objetos históricos, entre eles desenhos eróticos chineses do século 18 e, pasmem, vibradores de mais de 200 anos. Fico pensando como seria um vibrador há dois séculos...

A ideia que fazemos aqui no Brasil (a grosso modo, claro) é de que a China só produz aquele monte de tranqueiras de R$ 1,99, brinquedinhos que quebram antes de o Natal acabar e um monte de seda que rasga na primeira lavada. Nanãninanão. Eles gostam de sexo. E muito sexo. E eu fico sabendo disso às vésperas de minhas férias? Eita tentação brava!!!!

Asssim como os japoneses, os chineses são acusados de ter o “brinquedinho” pequeno. Acho que isso justifica o crescente mercado de produtos para aquecer, digamos assim, a relação. E eles estão certos. Uma amiga me disse que o namorado compensava muito bem seu fraco desempenho com um belíssimo sexo oral. A vida é assim, inteligente é quem sabe fazer compensações. Os chineses mostram que são assim também. Se o brinquedinho é pequeno, enchem a cama de outros tantos brinquedinhos que só de ver deixam a parceira louca. Entre óleos e estimulantes, lingeries, chicotes, máscaras e uma vasta coleção de vibradores, que mulher que vai lembrar do tamanho do bigulinho do rapaz? Para tudo, né? Sem contar os filminhos eróticos. Ah, e olha a revelação, os chinesinhos curtem uma lingerie masculina.

Definitivamente, tamanho não é documento!!!

Beijo da Lorena Lee. 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Párabola do Vaso Chinês

Cada ser é único, seja em suas perfeições ou imperfeições. Mas é justamente esta característica que faz com que nossa convivência seja interessante e gratificante. Descobrir o que há de bom em todo o ser humano que encontramos pelo caminho - porque sempre há algo bom no final das contas -, é um exercício diário.

Afinal, ninguém é totalmente ruim ou inteiramente bom o tempo todo. E esta é a grande arte da vida: aprender a conviver com as diferenças e aceitar o outro pelo e como ele é.

Sejam felizes!  

E lembrem-se de regar as flores do seu lado do caminho...

Grande beijo
Lorena Lee

A PARÁBOLA

Uma velha senhora chinesa seguia pela trilha com dois grandes vasos, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava nas costas. Um dos vasos era rachado e o outro, perfeito. Este último estava sempre cheio de água ao fim da longa caminhada do rio até sua casa, enquanto o rachado chegava meio vazio.

 
Durante muito tempo, foi assim, com a senhora chegando à casa somente com um vaso e meio de água.

Naturalmente, o vaso perfeito era muito orgulhoso do próprio resultado e o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito e por conseguir fazer só a metade daquilo que deveria fazer.

Depois de dois anos, refletindo sobre a amargura de ser “rachado”, o vaso falou com a senhora durante o caminho:

- Tenho vergonha de mim mesmo porque esta rachadura que eu tenho faz-me perder metade da água durante o caminho até a sua casa....

A velhinha sorriu e disse:

- Reparaste que lindas flores existem somente do teu lado do caminho? Eu sempre soube do teu defeito e, por isso mesmo, plantei sementes de flores na beira da estrada, do teu lado. E todos os dias, enquanto a gente voltava, tu as regavas! Durante dois anos pude recolher aquelas belíssimas flores para enfeitar a mesa do meu lar. Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa.          


                                                               )0(

domingo, 17 de abril de 2011

Rosas no domingo

Românticas por natureza, a maioria das mulheres elenca coisas simples no ranking essencial para a felicidade. E o amor sempre está ali, na primeira colocação. Claro que há aquelas que elegem conforto, luxo e dinheiro como fatores mais importantes, sempre há exceções e, claro, quem goste disso obviamente.

Mas voltanto à maioria... as mulheres trazem em seu DNA a docilidade, o gosto de gostar, a ansia pelo amor. Aquele que liga para dizer "bom dia", que pergunta como está, que se preocupa. Coisas assim, muito simples, fazem uma mulher feliz. Mulheres são capazes de trocar o que puderem para ter uma tarde ao lado do seu amor, na rede, fazendo um cafuné. Aliás, ficam felizes com esta possibilidade, a de doar amor. Mas também gostam de ser amadas.

Gostam de ganhar uma rosa no domingo, de um beijo carinhoso, de serem chamadas de "meu bem"! Mais do que ganhar um presente, gostam de ser lembradas no dia do aniversário, e em todos os outros aniversários, de namoro, casamento, caso etc... Os homens nunca lembram, e a mulher sempre perdoa o seu amor diante de um pedido de desculpas.

Mulheres gostam de acarinhar seu homem, de fazer massagens nos pés, no corpo... de sentir a pele macia contra a sua. Gostam de fazer seu homem chegar ao ápice do prazer com seus toques e carícias. E gostam mais ainda de saber que o carinho que recebem é sincero. Gostam de fazer com que seu homem se sinta o mais importante entre todos os demais. Gostam, enfim, de tratar seu homem como rei. Mas também querem sentir que são suas princesas...

Mulheres são seres complicados, complexos, todos sabemos. Mas são os seres mais fáceis de conquistar. Basta se sentirem amadas com sinceridade. E o caminho da conquista é um propósito fascinante e altamente recompensador para ambas as partes. Pois este é o caminho do amor. E é só com amor no coração que todos os demais projetos ganham uma fluidez sem igual. "Com amor se vai ao longe", disse um poeta. E é verdade. A energia transmuta, as relações mudam e o nosso dia-a-dia fica muito mais gostoso.

Sorte do homem que sabe entender o espírito de uma mulher... Será o mais feliz entre todos!

A elas, um doce poema da doce Elisa Lucinda, e que resume tudo isso que disse acima:



Da chegada do amor

Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.

Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.

Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.

Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.

Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.

Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.

Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.

Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.

Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.

Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.

Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.

Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.

Sem senãos.

Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.

Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.

Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.

Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.

Sempre quis um amor não omisso
e que suas estórias me contasse.

Ah, eu sempre quis uma amor que amasse.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

De que cor são seus sonhos?

Este texto abaixo é de uma mensagem enorme. Muitas vezes, nos pegamos perdendo tempo sonhando com um objetivo, porém, sonhando apenas. O que a lição de Nianzu nos lembra é que um sonho só deixa de ser um sonho quando nos empenhamos e lutamos para que o mesmo se torne realidade. Não basta desejar, temos de arregaçar as mangas e fazer a coisa acontecer. Aparentemente, a luta pode até nos parecer longa demais, podemos desanimar no meio do caminho e desistir. Desistir é uma opção que cabe a cada um. Mas nunca sem lembrar o que diz o sábio mestre: "Tudo tem seu tempo certo para acontecer. E o tempo de Deus não é o nosso." Portanto, nunca desista tão facilmente de seus sonhos. Eles podem se tornar realidade num piscar de olhos!

"O pequeno Nianzu vivia numa pequena aldeia que deuses e homens estabeleceram, num dos imensos vales que se aninham submissos nos sopés das montanhas dos Himalaias.

Finalmente ao chegar às portas do templo, os pequenos olhos escuros do menino percorriam atentos todo o espaço, como duas pequenas rodas dos desejos, que as faces rosadas faziam elevar como dois pequenos altares da descoberta do mundo.


Naquele dia, ele era um entre outros tantos que como ele procuravam ingressar no templo que a vida fizera como a opção que à maioria seria negada, fosse na sorte ou na vocação.

Na sala onde se encontrava a qual fora conduzido por um jovem monge de cabeça raspada, haviam sido colocadas tintas de várias cores, pincéis e folhas de papel pardo, que o monge fizera distribuir cerimoniosamente no respeito antecipado e igual.

Entre o silêncio que dava a mesma cor às palavras e aos pensamentos daquelas caritas de olhar brilhante, deu entrada na sala o lama, que a idade aparente procurava acompanhar na sabedoria que se lhe adivinhava na expressão e modos que ia dispensando a todos e a cada um dos presentes.

Sentados e acomodados, convidou o lama que cada criança pintasse a folha de papel que lhe fora distribuída, com a cor quea achasse ser a dos sonhos. De imediato, cada criança tomou nas mãos uma folha de papel e o pincel. Escolhendo entre as cores das tintas à disposição, pouco foi o tempo que demorou para que diante do velho lama repousassem folhas de papel de cores diversas, como uma pequena roda multicolor. Ele olhava atento cada uma das obras expostas diante de si.

Perguntando a cada criança o porquê de cada cor escolhida, entre tantas que faziam justiça fosse ao sol, ao céu ou à neve e às montanhas, não tardou que fosse chegada a vez do pequeno Nianzu justificar a sua escolha. Diante dele repousava uma folha onde várias eram as cores, entre as quais imprimira noutras tantas a sua mão.

- De que cor são dos teus sonhos? Perguntou o sábio lama.

- São da cor das minhas mãos. Respondeu o pequeno Nianzu.

O velho lama baixou-se diante dele e, numa reverência simples, tomou-lhe o pincel e na cor da vontade lhe ensinou a escrever aquele que lhe reconhecia no verdadeiro nome ancestral: "Zhiqiang"."


*"Zhiqiang" é um nome chinês cujo significado é "a vontade é forte"."

A necessidade de sobreviver e a perda precoce da família fizera-o percorrer o caminho pedregoso das montanhas para chegar ao mosteiro budista mais próximo, que o destino lhe fizera escolher como recurso de sobrevivência. O trajeto não foi nada fácil, Nianzu passou por várias provações de fé, persistência e coragem.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

"Esposa", programa irreversível!

SOC - Sistema Operacional do Casamento

ABERTURA DE CHAMADO
Sistema Operacional do Casamento... (Não deixe de ler a resposta do técnico)

Prezado Técnico,

Há um ano e meio troquei o programa [Noiva 1.0] pelo [Esposa 1.0] e verifiquei que o Programa gerou um aplicativo inesperado chamado [Bebê.exe] que ocupa muito espaço no HD.

Por outro lado, o [Esposa1.0] se auto-instala em todos os outros programas e é carregado automaticamente assim que eu abro qualquer aplicativo.

Aplicativos como [Cerveja_Com_A_Turma 0.3], [Noite_De_Farra 2.5] ou [Domingo_De_Futebol 2.8], não funcionam mais, e o sistema trava assim que eu tento carregá-los novamente. Além disso, de tempos em tempos, um executável oculto (vírus) chamado [Sogra 1.0] aparece, encerrando abruptamente a execução de um comando.

Não consigo desinstalar este programa. Também não consigo diminuir o espaço ocupado pelo [Esposa 1.0] quando estou rodando meus aplicativos preferidos.

Sem falar também que o programa [Sexo 5.1] sumiu do HD.

Eu gostaria de voltar ao programa que eu usava antes, o [Noiva 1.0], mas o comando [Uninstall.exe] não funciona adequadamente.

Poderia ajudar-me? Por favor!

Ass: Usuário Arrependido.

RESPOSTA:

Prezado Usuário,

Sua queixa é muito comum entre os usuários desse programa; mas é devido, na maioria das vezes, a um erro básico de conceito: muitos usuários migram de qualquer versão [Noiva 1.0] para [Esposa 1.0] com a falsa ideia de que se trata de um aplicativo de entretenimento e utilitário. Entretanto, o [Esposa 1.0] é muito mais do que isso: é um sistema operacional completo, criado para controlar todo o sistema!

É quase impossível desinstalar [Esposa 1.0] e voltar para uma versão [Noiva 1.0], porque há aplicativos criados pelo [Esposa 1.0], como o [Filhos.dll], que não poderiam ser deletados, também ocupam muito espaço, e não rodam sem o [Esposa 1.0].

É impossível desinstalar, deletar ou esvaziar os arquivos dos programas depois de instalados. Você não pode voltar ao [Noiva 1.0] porque [Esposa 1.0] não foi programado para isso.

Alguns usuários tentaram formatar todo o sistema para em seguida instalar a [Noiva Plus] ou o [Esposa 2.0], mas passaram a ter mais problemas do que antes.
Leia os capítulos 'Cuidados Gerais' referente a 'Pensões Alimentícias' e 'Guarda das Crianças' do software [CASAMENTO].

Uma das melhores soluções é o comando [DESCULPAR.EXE /flores/all] assim que aparecer o menor problema ou se travar o programa. Evite o uso excessivo da tecla [ESC] (escapar). Para melhorar a rentabilidade do [Esposa 1.0], aconselho o uso de [Flores 5.1], [Férias_No_Caribe 3.2] ou [Jóias 3.3].

Os resultados são bem interessantes! Mas nunca instale [Secretária_De_Minissaia 3.3], [Antiga_Namorada 2.6] ou [Turma_Do_Chopp 4.6 ], pois não funcionam depois de ter sido instalado o [Esposa 1.0] e podem causar problemas irreparáveis ao sistema.

Com relação ao programa [Sexo 5.1], esqueça! Esse roda quando quer.

Se você tivesse procurado o suporte técnico antes de instalar o [Esposa1.0] a orientação seria: NUNCA INSTALE O [ESPOSA 1.0] sem ter a certeza de que é capaz de usá-lo!

NOTA: SÃO POUCOS, MUITO POUCOS OS USUÁRIOS QUE CONSEGUEM DOMINAR O PROGRAMA [ESPOSA 1.O] E UTILIZA-LO DE MANEIRA PLENA; É EXTREMAMENTE COMPLEXO.

Ass: Técnico


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Beijo, beijinho, beijão...

Beijo, beijinho, beijoca, ósculo... Vários podem ser os termos designados para um dos gestos mais afetuosos do ser humano e que povoa sua mente desde a mais tenra idade. É muito comum o bebê aprender a dar beijinhos antes mesmo de falar; na infância, já sabendo exatamente o que é o beijo, a criança se depara com histórias como a da Bela Adormecida. E o beijo começa a ganhar uma outra conotação, ainda que subjetivamente. Afinal, qual menina não quer ser despertada pelo beijo de um príncipe, e qual menino que não deseja imensamente ser o príncipe para beijar a tal princesa?

É algo tão especial que ganhou até um dia em sua homenagem: hoje é o Dia Internacional do Beijo. Na pré-adolescência, o beijo ganha, de fato, uma relação mais sensual. A menina passa a ver que aquele príncipe de faz-de-conta de anos passados se parece muito com o colega da carteira ao lado. E basta o amigo identificar na garota a princesa para que o beijo surja na sua mais intensa concepção: o gesto principal que simboliza a troca de carinho, de afeição, de atração. De amor. Os mais românticos dizem até que o beijo funciona como uma espécie de termômetro. Se o parceiro (a) não gosta de beijar na boca é porque o amor está padecendo.

Assim como o próprio relacionamento, o beijo também amadurece. Basta lembrar do primeiro. Qual adolescente não se desesperou pelo fato de não saber beijar na iminência do primeiro encontro? "Treina na laranja", “Treina na mão”.... aconselham os amigos. Depois, ninguém consegue entender como alguém pôde, um dia, achar que beijar e chupar laranja é "muito igual". Bom, dos primeiros beijinhos singelos - os chamados "selinhos" ou "bitocas" - até o beijo mais ardente, existe todo um processo. "Nos casos do beijo de amor e do beijo apaixonado, quando são bons, dão asas à imaginação e deixam aquela sensação gostosa e até saudade", lembra Eduardo Lambert, autor de "A Terapia do Beijo" (Editora Pensamento).

"Sobre o beijo de amor assim diz Casanova: 'O beijo é uma tentativa ardorosa de se absorver e inspirar a essência da pessoa que amamos'." Um parêntese: o beijo desperta no organismo humano mais do que prazerosas sensações. Ele é o responsável por desencadear o que se costuma nominar de "química do amor".

O mais importante, contudo, é a sensação de prazer que o ato proporciona. Isso acontece porque o beijo estimula no cérebro a produção de endorfinas, substâncias responsáveis pela sensação de bem-estar - conhecidas como os "hormônios da felicidade". Outro aspecto é o calórico. Isso mesmo! Beijar queima calorias. Acredita-se que um beijo caprichado consuma cerca de 12 calorias e, somado a uma relação sexual completa e longa, em torno de uma hora, pode queimar algo em torno de 600 calorias.

O EROTISMO POR TRÁS DO GESTO

Em Feng Shui do Amor (Editora Madras), Pier Campadello verifica que se atualmente os chineses não são famosos adeptos das beijocas, no passado a coisa era bem diferente. Ele explica que para os antigos chineses, beijo era coisa séria. Totalmente erótico, "uma inalienável comunhão sexual". "O feng shui do amor considera muito importante o beijo erótico profundo, perdendo apenas para o ato da relação sexual propriamente dita. Desde que os parceiros o apreciem, o beijo erótico deve ser realizado com a maior freqüência", diz.

"A única coisa que precisa ser vencida pelo casal é a barreira psicológica para aprender a beijar todas as partes do corpo do parceiro, e que geralmente é mais forte na mulher." Conforme afirma o terapeuta, o beijo erótico é capaz de alterar toda a estrutura sensorial do parceiro, e que algumas mulheres conseguem até chegar ao orgasmo com ele. Verifica, porém, que a técnica do beijo erótico envolve audição, tato, olfato e paladar e consiste em relaxar os músculos bucais e faciais, pois se entra em contato íntimo e prazeroso com os lábios e a língua do parceiro (a).

Campadello destaca no livro os ensinamentos de Wu Hsien, mestre no assunto e autor de The Libation of the Three Peaks (“O Beijo dos Três Picos"). De acordo com o mestre, o beijo erótico pode percorrer vários caminhos até seu objetivo final, por exemplo, começando pelo "Pico do Lotus Vermelho" (os lábios), ou tocar direto a "Primavera de Jade" (a língua da mulher). Com mais entusiasmo, seguir para os "Picos Gêmeos" (os seios), daí o "Poço Florio" (a boca) pode percorrer calmamente cada centímetro do corpo até o "Portão Escuro" (a vagina). É, então, o momento do beijo "Pico do Cogumelo Roxo" ou "Caverna do Tigre Branco" no tão desejado "Portão de Jade" (vulva).


HISTÓRIA: DIVINDADE E MITOLOGIA

Mas nem sempre o beijo foi o que sabemos ser hoje. "O primeiro beijo que recebemos foi o sutil Sopro Vital do Criador, que com amor, através da Respiração Divina, nos deu o Sublime Beijo criando nossas almas e nossas vidas", destaca Lambert. Ele lembra que na Suméria (região da antiga Mesopotâmia, hoje Ásia), as pessoas costumavam enviar beijos para os céus, endereçados aos deuses. Na Antigüidade, o beijo materno, de mãe para filho, era bem comum. Entre gregos e romanos, era observado entre todos os membros de uma família e entre amigos bastante íntimos ou entre guerreiros no retorno de um combate, muitas vezes, com conotação erótica. Os gregos, aliás, adoravam beijar. No entanto foram os romanos que o popularizaram.

Para explicar o beijo, o latim tem três palavras distintas: “osculum”: beijo na face; “basium”: beijo na boca; e “saevium”: beijo leve e com ternura. Beijo na boca, entre cidadãos da mesma classe social, era uma saudação praticada pelos persas.

Heródoto, no século 5 a.C., listou todos os tipos de beijos e seus significados entre persas e árabes. "Na Idade Média, séculos 12 e 13, a saudação entre religiosos cristãos tornou-se o beijo de paz, que simbolizava a caridade e unia os cristãos durante a missa. O beijo de paz também era utilizado pela Igreja nas cerimônias de ordenação, na recepção de noviços, na missa etc.", salienta Lambert. Neste mesmo período da história, a Igreja Católica proibiu o beijo caso este tivesse alguma conotação libidinosa. O beijo, afirmavam os religiosos, não tinha de ter ligação com o prazer sexual. "Os fiéis passaram a beijar o osculatório e somente os clérigos mantiveram o costume do beijo nos lábios para as cerimônias."

O beijo na boca passou também a representar uma espécie de contrato entre o senhor feudal e o seu vassalo. Era algo como "dou minha palavra". Os burgueses adotaram o beijo na face como sinal de saudação; o nobres usavam o beijo na boca para o mesmo fim. Somente no século 17 que os homens deram fim ao beijo na boca, o substituíram, então, pelo abraço cerimonial. Paralelamente, os religiosos substituíram o beijo na boca pelo beijo nos pés, o beijo nas mãos, chegando ao aperto de mão e ao abraço da paz.

Lambert lembra que, no século 19, o surgimento do Romantismo, que dava ênfase ao individualismo, lirismo, sensibilidade e fantasias, com o predomínio da poesia sobre a razão, favoreceu os ardentes romances e tórridas paixões. Conseqüentemente, os beijos ganharam tremendo espaço e popularidade. Com o feminismo, a mulher, muito mais liberada, não teve mais vergonha de expor seus desejos. A literatura oriunda desta época, os filmes produzidos em Hollywood (quem não se lembra da cena protagonizada por Vivian Leigh e Clark Gable em ...E o Vento Levou?, mudaram hábitos tradicionais de vários povos. Entre os negros, amarelos, povos árabes e indianos, entre os quais o beijo não fazia parte dos costumes.

"O beijo atinge seu esplendor e sua razão de ser, de existir, quando é dado com os sentimentos mais puros do amor", diz Lambert. "O beijo de amor é uma forma de a boca exercer sua função de comunicar afeto, carinho, ternura e erotismo, numa demonstração da relação que existe entre oralidade e sensualidade."


QUÍMICA DO AMOR

Um beijo mobiliza:

·        29 músculos, sendo 17 deles linguais;
·        Favorece o aparelho circulatório;
·        Eleva de 70 batimentos cardíacos (em média) para 150, melhorando a oxigenação do sangue.
·        Beneficia a troca de substâncias: 9 miligramas de água;  0,7  decigramas de albumina; 0 711 miligramas de matérias gordurosas;  0,45 miligramas de sais minerais, hormônios; 18 substâncias orgânicas;
·        Bactérias (cerca de 250);
·        Vírus.

(Texto de Cleide Cavalcante, com republicação autorizada)

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