segunda-feira, 19 de março de 2012

Reencontro

Não vale adiantar o relógio
Não vale enganar o calendário
Mas vale sonhar...
Com o dia que vou te reencontrar
Boa noite!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Parada Gay: deslizes dos afetados

Ontem estive na Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais e Transgêneros) em São Paulo, na boca do povo chamada apenas de “Parada Gay”. O evento estava debutando e, para comemorar os 15 anos, teve até valsa no encerramento. O 15º carro de som estava chegando no comecinho da Rua da Consolação quando anunciaram o Lago dos Cisnes em homenagem à data e, claro, a mais um ano de sucesso do evento. Até foi bonitinho ver o povo do arrastão dançar a música na pontinha dos pés atrás do caminhão... Tarefa muitíssimo árdua depois de se acabarem naqueles quilômetros todos entre a Paulista e a Praça Roosevelt, local da dispersão....
Refleti sobre várias coisas enquanto via o povarel descer a rua. Bom, começando pelo Lago dos Cisnes... Nada mais apropriado para fechar o evento. Conhecem o tema de O Lago dos Cisnes? A ópera de Tchaikovsky conta história de uma princesa que foi aprisionada no corpo de um cisne e que só poderia voltar à condição normal por um amor verdadeiro e único... Este amor, um belo príncipe, apareceu, mas a maldade humana somada à feitiçaria traçam artimanhas que roubam o amor da princesa e esta se torna cisne para sempre. Os dois morrem ao final...
Durante a parada, eu vi muitas Odettes (a personagem central da ópera). Homens e mulheres que conseguiram romper a carcaça do cisne e se mostrar para a vida como são de fato. Estes, ao contrário do que diz a ópera, venceram a maldade e subjulgaram os atabaques que eventualmente poderiam estar soando contra uma união ainda condenada por muita gente. Poxa, quem não gosta de ver a felicidade estampada no rosto das pessoas? De saber que o simples gesto de andar de mãos dadas pode representar a vitória sobre o fardo de toda uma vida infeliz, subjulgada? Vi jovens e vi velhos ostentando o carinho como a um troféu olímpico. E eu senti orgulho de saber que a minha cidade de coração (já que “adotei” Sampa como minha terra) abriu as portas para uma manifestação tão grandiosa e despretensiosa do ponto de vista comercial. Mais do que isso. Valorizando a vida e tudo o que de melhor ela oferece: o amor pleno, seja ele como for experimentado, vivido ou degustado. Justamente, este foi o tema da Parada Gay deste ano: “Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia”.
Vi muita brincadeira, muitos sorrisos, muita dança, acenos e beijos. Vi também olhares indignados, duvidosos e reflexivos. Normal. Faz parte. Acho que as pessoas, mais do que procurarem entender, aceitaram o que certas correntes da psicologia, da psicanálise ou seja lá o que for diz: a vida humana não comporta mais apenas dois sexos. Ou melhor, nunca comportou. O que vemos hoje é o emergir do terceiro, quarto sexo. Muitos dizem até algo como a “pansexualidade”. E por aí vai...
Eu aceito tudo isso numa boa, sem preconceitos. E sem querer ser moralista, falo também do “outro lado” da festa colorida deste domingo... Eu vi cenas que deixariam o povo de Sodoma e Gomorra no chinelo. E fiquei me questionando o por quê. Foram manifestações desnecessárias e que fugiam completamente do propósito do evento. Por exemplo: casais de meninos que se agarravam em beijos “arranca língua” em frente às senhoras em pé nas calçadas que ali se encontravam simplesmente para prestigiar o evento; rapazes com bundas de fora, ou abaixando as calças para o público e travestis que provocaram a plateia chacoalhando peitos inflados por silicone industrial (na maioria dos casos). Vi muita coisa assim que beirou o extremo da apelação, da provocação barata a pessoas que, como os participantes da Parada, dispostos a se divertirem e a avalizarem um contexto sublevado. Afinal, os mais turrões, os homofóbicos, não perderam mesmo o seu tempo para ver parada alguma.
Assim, o que me ocorreu é que, infelizmente, muitas daquelas pessoas não souberam fazer uma festa bacana. Não souberam se colocar, não tiveram classe alguma (e para isso não precisa ter dinheiro, basta ter educação, berço), não respeitaram para ser respeitados. Uma pena. Eu me lembrei das minhas calopsitas. Algumas vezes já abri a gaiola para elas voarem livres pela casa. Mas elas não saem da gaiola, não por não terem liberdade, mas por não saberem fazerem uso dela.
Então, resumindo, ainda tem muita Odette que merece o confinamento imposto pelas penas do cisne, pois não aprenderam a valorizar as asas que a vida já lhe concedeu!

Um beijo grande da Lorena Lee

sábado, 11 de junho de 2011

Milagres do Amor

O badalar do relógio o despertou para a realidade mais uma vez. Já eram 22h e havia perdido o sono, fato que passara a se repetir mais freqüentemente há algum tempo. Quanto? Ele não sabia dizer. Fernando ficava inebriado quando deixava-se levar a lugares tão distantes que sua memória, já corrompida pelo tempo, custava a resgatar todos os detalhes. Sentado em sua velha poltrona de couro, com os pés sobre o banquinho e uma manta a cobrir-lhe até a cintura, relembrava saudoso o dia mais importante de sua vida: seu baile de formatura, em 1939.

O tic-tac parecia embalar Fernando delicadamente de volta ao dia 10 de dezembro. O grande salão de festas estava lotado de gente bonita e divertida. E música boa. Fernando lembra quando a banda começou a tocar uma das mais pedidas: A Deusa da Minha Rua. Os rapazes logo trataram de tirar as garotas para dançar. Fernando era tímido e preferiu ficar de canto, tomando uma água gelada com gás e curtindo os colegas dançando animados com suas parceiras. Muitos deles, afinal, nunca mais iriam se encontrar. Outros, jamais se separariam, como Sérgio e Roberta, que se casaram dois anos após a formatura.

Carolina por pouco não foi ao baile. Como não tinha namorado, ficara sem par. Mas não era por falta de candidatos. A fila de garotos dispostos a assumir um compromisso com a bela jovem era grande. Acontece que Carol, como a chamavam, não se interessara por nenhum deles. Carol, em seus sonhos mais íntimos, tinha em mente a imagem do seu amor. Alto, forte, cabelos negros e fartos, olhos escuros, sorriso largo, falante, carinhoso e, o principal, bem-humorado. Porém, ela não conseguia ver em nenhum dos eventuais pretendentes o que idealizara. Quem sabe no baile? Carol rejeitou cinco convites. Pedro foi o sortudo. E quase desmaiou ao ver a bela moça ainda mais bela do que nunca.

Sua pele clara, cabelos e olhos castanhos, contrastavam muito bem com o vestido azul. Simples, mais requintado. Carol chamou a atenção de todos ao entrar no salão, com seu sorriso alvo e porte esguio. Pedro fazia de tudo para agradá-la, mas Carol logo deixou claro que não queria namoro. Aos 17 anos, ela nunca havia namorado e Pedro, definitivamente, não seria o primeiro. Após trocar confidências com as amigas e dançar bastante, a moça sentou-se perto da janela para ver dançando os poucos colegas formandos. Para ela, ainda faltava um ano.

A brisa fresca que entrava pela janela foi como um bálsamo para Carol, que havia se esbaldado com as amigas na pista de dança. Dançou até marchinha de carnaval, mas quando começou a seleção de lentas, preferiu sentar-se um pouco. Não estava disposta a dançar com nenhum daqueles meninos, apesar de conhecer e ser amiga de vários deles.

O copo de água já estava vazio. Fernando refletia em como aquele paletó estava lhe sufocando naquela noite quente. Ele estava com 18 anos e era a primeira vez que vestia uma roupa como aquela. Adorava dançar e não tinha parado ainda. Mas, na seleção de lentas, optou em retirar-se da pista. Quando a banda começou a tocar A Deusa da Minha Rua, Fernando achou melhor ir pegar um ponche. Mas, três passos dados, o rapaz ficou estático. A cena que vira parecia se encaixar perfeitamente nos versos da música: “A deusa da minha rua/Tem os olhos onde a lua/Costuma se embriagar/Nos seus olhos eu suponho/Que o sol, num dourado sonho/Vai claridade buscar”.

Seus olhos cruzaram outros brilhantes, eram os de Carol. Seus cabelos lisos, já um pouco soltos do penteado, lhe acariciavam suavemente o rosto com o vento que soprava pelas costas. Fernando ficou ali, parado, admirando a cena, que de tão perfeita lhe lembrou uma tela de Rembrandt. Quem era aquela moça, afinal? Na mesa, serviu-se de água. Paulo apareceu e Fernando logo lhe perguntou: “Você conhece aquela moça de vestido azul?”. “É a Carol, da turma da Ana!”, respondeu o outro. Fernando nunca havia reparado na moça. Muito menos em sua beleza. Mas naquele dia parecia que Carol havia emprestado a magia cintilante das estrelas.

Fernando tomou coragem, respirou fundo e foi em direção à moça. Se apresentou e perguntou se ela gostaria de dançar a próxima música com ele. Com o rosto cheio de rubor, Carol aceitou o convite do rapaz. Ela, sim, já havia visto Fernando algumas vezes com amigos de sua prima Ana, na escola. Mas nunca chegaram a conversar. Tímida, Carol achava Fernando “adulto” demais. Esperou ansiosa o início da próxima dança, quando o mundo se tornou pequeno demais para ambos.

Carol e Fernando bailaram juntos até o final da noite, como um casal de bonecos numa caixinha de música. Eram só os dois, num chão espelhado, conduzidos por acordes doces e sentimentais. O rapaz jamais esqueceu o toque delicado das mãos da moça. Seu perfume lembrava as rosas do jardim de sua casa. Aliás, Carol, tal como uma rosa, desabrochava para a vida. E exalava o frescor da juventude e a felicidade em ver materializado seu príncipe, talhado mentalmente desde a infância. Fernando a conduziu pelo salão como um cavaleiro encantado com sua nova medalha. Com mãos firmes, porém macias, passo certo no compasso, o rapaz se sentia flutuar. Carol era a mulher de sua vida. À primeira vista, já teve esta certeza.

23 horas. Fim do baile. Sr. Antônio já havia estacionado seu reluzente Chevrolet Coupé à frente do clube. Carol não poderia deixar seu pai esperando senão era bronca na certa. E das grandes. Contudo, aproveitou cada segundo antes da despedida. Tudo parecia ser um sonho. Marcaram novo encontro, na escola mesmo. E, na despedida, um beijo delicado selaria para sempre o amor nos corações de Fernando e Carol.

Verônica não reclamou quando sua chefe, a Sara, disse que ela havia sido escalada para trabalhar no dia de Natal. No fundo, ficou feliz apenas com a possibilidade de trabalhar. Após sete meses desempregada, a jovem viu suas economias serem consumidas pelas contas. E ela sabia que não podia contar com a ajuda de quase ninguém. O dinheiro havia acabado exatamente quando recebeu um convite de trabalho, numa casa de repouso. O salário não era ruim e ela iria fazer o que mais gostava, cuidar de pessoas, em especial de velhinhos. Ao desligar o telefone, um mês antes, Verônica se ajoelhou e agradeceu a Deus pela oportunidade. Seria seu presente de Natal.

Naquele dia 24, Verônica, sempre muito atenciosa, foi de quarto em quarto. A cada interno, deu um presentinho. Coisas simples, a maioria artesanato que ela própria fazia. Os velhinhos ficaram exultantes. Eles adoravam a moça e o carinho imenso que ela lhes dedicava diariamente. Além disso, para muitos deles, aquele seria o único presente e cumprimento de Natal. É que muitas famílias simplesmente achavam mais confortável manter seus idosos numa casa de repouso, pagando as contas, mas os mantendo fora do alcance dos olhos.


Sr. Fernando não podia reclamar, estava ali por sua própria vontade. Os dois filhos sempre o visitavam com os netinhos. Ele era um encanto e o preferido de Verônica. Era amável, culto e viajado. E Verônica adorava ouvir suas histórias, sempre ricas em detalhes e cores. Apesar de tudo o que vivera, sr. Fernando era um homem cheio de fé. Alegre e bem-humorado. Quando Verônica entrou em seu quarto e lhe deu um porta-retrato que ela mesma havia feito, em madeira e pintado à mão, sr. Fernando ficou tão feliz que uma lágrima insistiu em brotar em seus olhos. Rapidamente, ele foi até a estante e pegou um livro. Era Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade.

Ao entregá-lo a Verônica, disse que aquele livro lhe era muito especial e o havia acompanhado por quase toda a vida. Naqueles versos de seu poeta predileto, sr. Fernando declarou reencontrar diariamente o seu amor. E, agora, queria lhe dar como presente. “Estou lhe presenteando com o melhor de mim”, disse ao entregar o livro. Verônica não entendeu direito o significado de tudo aquilo, mas se sentiu profundamente lisonjeada.

À noite, Verônica decidiu folhear as páginas amareladas daquele raro exemplar. Em 1930, apenas 500 volumes haviam sido impressos e aquele era um deles. Ao abri-lo, Verônica percebeu uma carta dobrada no meio do livro. Letras simetricamente traçadas diziam o seguinte: “Minha querida, hoje eu sei que sonhos, se sonhados com carinho e fé, se tornam realidade. Soube que seria minha no momento em que a vi. Quando segurei sua mão pela primeira vez, tive a certeza de que Deus havia me enviado uma flor rara e com o brilho das estrelas para iluminar todos os dias de minha vida; com a leveza dos anjos, para amenizar os contratempos do caminho; e com o perfume mágico do amor, para me aconchegar na felicidade plena e inesgotável. Eu agradeço a Deus todos os dias por ter você ao meu lado e vou fazê-lo até o último instante de meu tempo aqui na Terra. Pois você, meu amor, é a prova viva de que Deus existe. E que eu sou um de seus filhos. Do seu grande admirador e eternamente apaixonado, Fernando. Com amor”.

Verônica não conseguiu folhear mais nenhuma outra página. Nas últimas linhas, não conseguiu segurar o choro. Era a coisa mais linda que lera nos últimos tempos. Releu aquela carta mais umas três vezes. Fechou o livro e adormeceu pensando em Sr. Fernando. Nos dias seguintes, passou a levar o livro consigo para ler no caminho, mas a carta havia guardado para devolvê-la a Sr. Fernando. Não conhecia Drummond, mas se encantou com o poeta. Como era época de festas, não teve tempo de entregar a carta ao amigo, nem sequer pode conversar com ele, já que havia mudado de turno.

Era dia 2 de janeiro de 1981. Verônica estava animada. Como voltara ao período diurno, estava ansiosa para conversar com Sr. Fernando. Queria saber mais sobre a carta, datada de 9 de junho de 1941. Chegou apressada ao Lar Santana, no alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Assim que colocou o uniforme, pôs a carta no bolso e seguiu com passos largos até o quarto de Sr. Fernando. Bateu à porta e abriu devagarzinho, como fazia todos os dias. Um arrepio lhe percorreu a espinha ao ver a cama arrumada de Sr. Fernando. As cortinas abertas deixavam os primeiros raios de sol entrar e iluminar o ambiente. Vazio. Neste momento, Solange se aproximou. Uma troca de olhares foi o suficiente para saber que Sr. Fernando havia partido. Verônica fez uma oração em silêncio.

Vinte e cinco anos se passaram. Vanessa estava em férias e, agora que havia concluído a faculdade de Medicina, queria aproveitar para fazer uma boa limpeza em casa antes de começar a fazer estágio no hospital. Havia se formado como médica geriatra, gosto pela profissão que herdou da mãe, já aposentada havia vários anos. E foi justamente pelo quarto de Dona Verônica que Vanessa começou o que chamava de “bota-fora”. Todos os anos, elas faziam a mesma coisa: roupas, jornais, revistas, livros e outros objetos sem utilidade, doavam para instituições de caridade. E foi em uma das gavetas da antiga cômoda que Vanessa encontrou o livro de Carlos Drummond de Andrade. E, como sua mãe, ficou surpresa ao ver a carta. Correu para saber do que se tratava.

Dona Verônica lhe contou tudo detalhadamente.

Vanessa achou a história incrível. Durante dias ficou pensando no romance entre Fernando e Carol. O que teria acontecido? Haviam namorado, casado ou teria sido apenas uma paixão platônica? Como estava de folga naqueles dias, decidiu ir com a mãe até o Lar Santana. Lá chegando, conversou com a Irmã Superiora, que lembrava muito bem de Sr. Fernando. E concordou, não sem muita insistência por parte de Vanessa, em contar a história do simpático velhinho e tentar achar seus registros.

Para surpresa de Verônica e Vanessa, Sr. Fernando havia, sim, se casado com Carol. Isso foi em junho de 1941. Em março do ano seguinte, Carol deu à luz Gustavo. Em agosto, Fernando foi convocado para a Segunda Guerra Mundial, faria parte de um pelotão de 25 mil homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que desembarcou em Nápoles, na Itália, para lutar contra a Alemanha e a Itália. Nesta época, o casal não sabia, mas Carol já estava grávida de três meses do segundo filho. Quando Maria Eduarda nasceu, em fevereiro de 1943, Carol entrou numa profunda crise de depressão.

A família decidiu mudar para Campos do Jordão, para ver se os ares do campo ajudavam na recuperação da jovem senhora. Deprimida, doente e apática, Sr. Antônio e Dona Maria decidiram internar a filha em uma casa de repouso, ali em Campos mesmo. Mas o que era para ser breve, demorou mais do que o previsto. Mais uma vez, Sr. Antônio, empresário aposentado, decidiu levar toda a família para sua terra natal: Portugal. Na terra dos pais, na região do Minho, Carol morou com os filhos por quase 20 anos.

Quando Fernando retornou ao Brasil, em 1945 - revelou a Irmã Superiora à Vanessa e Verônica -, soube por um parente distante de Carol que a família, acreditando em sua morte na guerra, havia se mudado para Campos do Jordão. E que Carol estava, àquela época, muito doente. Ele decidiu ir a Campos, lá soube que, mais uma vez, a família da esposa havia se mudado para Portugal. E que Carol estava em estado “grave” de saúde. Uma antiga vizinha chegou mesmo a garantir a Fernando que sua Carol havia morrido. Tomado pela tristeza e pela dor da perda da família, Fernando sofreu durante anos. Mal chegou a desfrutar a alegria do casamento e, ao menos, conviver com os filhos. A mais nova, nem conheceu. Mas casou-se novamente com Ana, teve mais dois filhos: Otávio e Carolina (nome em homenagem à esposa).

Porém, Fernando logo ficou viúvo. Não se casou novamente. Com os filhos crescidos e casados, não quis atrapalhar. Ele mesmo decidiu morar no Lar Santana. Apesar dos percalços da vida, Fernando nunca se deixou abater pela tristeza. Às vezes, disse a freira, ele ficava triste. Mas ia à capela, rezava, e logo podia-se ouvi-lo assobiando feliz pelos corredores. “Minha fé enche o meu espírito de alegria todos os dias”, falava o velho de cabelos brancos e sorriso bonito.

Segundo a Irmã, Sr. Fernando procurou até quando pode encontrar sua família. Mesmo depois de casado. Ana, sua esposa, era muito compreensiva e doce. E nunca limitou este desejo do marido, pelo contrário, sempre o incentivou. Vanessa pediu à Irmã Superiora todos os nomes da família do Sr. Fernando. Disse, animada, que conhecia um site que encontrava pessoas. Foi o que ela fez. Durante meses, Vanessa chegava do hospital e ficava na internet, falando com um e com outro. Formou uma grande rede de amigos. Todos se sensibilizaram com a história de Fernando e Carol.

Até que na manhã de 23 de dezembro de 2006 um e-mail chegou em sua caixa postal. Pelo assunto, “Conseguimos”, Vanessa já tremeu de emoção. Enquanto abria o documento, gritou desesperada pela mãe.

Nivaldo, o diretor de um site de busca, lhe enviou a seguinte mensagem: “Cara, Vanessa. É com muita emoção que lhe dou esta notícia. Depois de muita procura, conseguimos, enfim, localizar a família de Dona Carolina. Moram todos no Alto da Lapa, na zona oeste da capital paulista. E para nossa alegria maior, dona Carolina está viva, lúcida e bem de saúde. Estamos muito felizes porque, depois de todos estes meses, Fernando e Carolina passaram a ser íntimos de todos nós. Nos comoveram e passaram ao mundo uma grande história de amor, que sobrepujou ao tempo, os obstáculos e a distância. E se mostrou eterno. Parabéns pela iniciativa e por nos fazer parte desta história também. Nivaldo”.

Vanessa e Verônica choraram abraçadas por vários minutos. A moça anotou rapidamente o endereço enviado por Nivaldo. Nem foi trabalhar, pegou o carro e saiu em disparada para o outro lado da cidade. Com um frio na barriga tocou a campanhia de uma casa antiga, porém ampla e muito bonita, bem perto do Parque Villa Lobos. A empregada veio atender; ela explicou o caso, mas a mocinha não entendeu muito bem. Entrou e voltou com Maria Eduarda, que trazia no colo o pequeno Miguel. Novamente, Vanessa se apresentou e logo tirou da bolsa a carta. Entregou a Maria Eduarda, que terminou de ler tomada pela emoção. A moça convidou mãe e filha para entrarem. Na sala, uma velhinha simpática, com a pele bem cuidada e os cabelos lisos presos em um coque, fazia crochê num confortável sofá, ao lado de uma grande árvore de Natal. Ela sorriu ao ver as visitas entrando.
Uma carta de amor... que chegou
 com 65 anos de atraso

Maria Eduarda, com cuidado, explicou quem eram as duas. Dona Carol não podia acreditar no que ouvia. Lhe entregaram a carta. Ela leu e chorou. Depois sorriu. Vanessa e Verônica, então, começaram a contar toda a vida de sr. Fernando. Que ele não havia morrido na guerra e que, quando retornou ao Brasil, foi induzido a acreditar que ela havia morrido. Mas que, mesmo assim, não acreditando, a procurou e aos filhos enquanto pode.

Apesar disso tudo, foi um homem feliz. Não se deixou corromper pela amargura. Sua alegria de viver contagiava a todos que o rodeavam. E que seu amor por ela o acompanhou até o último instante. E, apesar de o destino tê-los separado muito cedo, uma força maior os uniu por toda a vida, a ponto de terem sido vizinhos de bairro durante décadas sem saber.

“Eu nunca duvidei do nosso amor. Sempre soube que seria eterno. Eu e Fernando somos uma única alma, tenho certeza. Não houve um dia, em toda a minha vida, que deixei de sentir sua presença. Fernando sempre esteve ao meu lado. E foi isso que me deu força para viver bem e feliz até hoje”, afirmou tranqüila, Dona Carol.

Neste momento, ela se levantou e foi até a árvore de Natal. Escolheu o melhor lugar e colocou com cuidado a carta de Fernando. Uma carta que ele havia escrito para ela, mas que nunca chegou a lhe entregar. Talvez porque esta mesma “força maior que os uniu”, achou melhor assim. Esta carta não era de fato para Carol, mas, sim, para o mundo. Para que todos pudessem conhecer a história de Fernando e Carol. E nunca duvidar da força e da magia de um grande amor.

Dois meses após ler a carta de amor de Fernando, Carol faleceu enquanto dormia.

* Inspirado em uma história real.

** Este conto foi o vencedor do primeiro concurso de contos do site BrasilWiki.


                                                        OoO

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mulher, Mulher

"...sempre quis um amor que me coubesse futuro..."
Românticas por natureza, a maioria das Mulheres elenca coisas simples no ranking essencial para a felicidade. E o amor sempre está ali, na primeira colocação. Claro que há aquelas que elegem conforto, luxo e dinheiro como fatores mais importantes; sempre há exceções e, claro, quem goste disso obviamente.

Mas voltanto à maioria... as Mulheres trazem em seu DNA a docilidade, o gosto de gostar, a ansia pelo amor. Aquele que liga para dizer "bom dia", que pergunta como está, que se preocupa. Coisas assim, muito simples, fazem uma Mulher feliz. Mulheres são capazes de trocar o que puderem para ter uma tarde ao lado do seu amor, na rede, fazendo um cafuné. Aliás, ficam felizes com esta possibilidade, a de doar amor. Mas também gostam de ser amadas.

Gostam de ganhar uma rosa no domingo, de um beijo carinhoso, de serem chamadas de "meu bem"! Mais do que ganhar um presente, gostam de ser lembradas no dia do aniversário, e em todos os outros aniversários, de namoro, casamento, caso etc... Os homens nunca lembram, e a Mulher sempre perdoa o seu amor diante de um pedido de desculpas.

Mulheres gostam de acarinhar seu homem - ou sua fêmea - , de fazer massagens nos pés, no corpo... de sentir a pele macia contra a sua. Gostam de fazer seu par chegar ao ápice do prazer com seus toques e carícias. E gostam mais ainda de saber que o carinho que recebem é sincero. Gostam de fazer com que seu amor se sinta o mais importante entre todos os demais. Gostam, enfim, de tratar seu homem como rei - e suas mulheres como rainhas. Mas também querem sentir que são suas princesas...

Mulheres são seres complicados, complexos, todos sabemos. Mas são os seres mais fáceis de conquistar. Basta se sentirem amadas com sinceridade. E o caminho da conquista é um propósito fascinante e altamente recompensador para ambas as partes. Pois este é o caminho do amor. E é só com amor no coração que todos os demais projetos ganham uma fluidez sem igual. "Com amor se vai ao longe", disse um poeta. E é verdade. A energia transmuta, as relações mudam e o nosso dia-a-dia fica muito mais gostoso.

Sorte dos que entendem o espírito de uma mulher... Será o ser mais feliz entre todos porque terá o mundo (e um pouco mais) a seus pés!

A Elas, um doce poema da doce Elisa Lucinda; ele resume tudo isso que disse acima:

Da chegada do amor

Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.

Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.

Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.

Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.

Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.

Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.

Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.

Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.

Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.

Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.

Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.

Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.

Sem senãos.

Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.

Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.

Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.

Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.

Sempre quis um amor não omisso
e que suas estórias me contasse.

Ah, eu sempre quis uma amor que amasse.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Pela Janela

Olhando pela janela, o sol brilhava lá fora. Mas o coração estava gelado. Nevava. Os sonhos, porém, ah... estes eram os melhores...

domingo, 22 de maio de 2011

Reencontro

Não vale adiantar o relógio
Não vale enganar o calendário
Mas vale sonhar...
Com o dia que vou te reencontrar
Boa noite!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

À espera do amor

Recontei o tempo,
andei pra trás,
colecionei os dias e as noites.

Atrasei as horas,
segurei as nuvens,
troquei as estações.

Plantei cata-ventos,
prosei com bem-te-vis,
chorei com beija-flores.

Reguei a saudade
e cochilei em suas sombras.
Subi mangueiras
entardecidas de espera.

No quintal,
apanhei um pé de palavras
e arranjei uns versos
silvestres no vaso.
Sentei na soleira da porta
e desenhei seu nome na terra.

Poli a lua,
dei corda nas estrelas,
arrumei o céu.
Debrucei meu coração na janela,
até meu peito ficar marcado
pela dor da espera.

(autor desconhecido)