segunda-feira, 27 de junho de 2011

Parada Gay: deslizes dos afetados

Ontem estive na Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais e Transgêneros) em São Paulo, na boca do povo chamada apenas de “Parada Gay”. O evento estava debutando e, para comemorar os 15 anos, teve até valsa no encerramento. O 15º carro de som estava chegando no comecinho da Rua da Consolação quando anunciaram o Lago dos Cisnes em homenagem à data e, claro, a mais um ano de sucesso do evento. Até foi bonitinho ver o povo do arrastão dançar a música na pontinha dos pés atrás do caminhão... Tarefa muitíssimo árdua depois de se acabarem naqueles quilômetros todos entre a Paulista e a Praça Roosevelt, local da dispersão....
Refleti sobre várias coisas enquanto via o povarel descer a rua. Bom, começando pelo Lago dos Cisnes... Nada mais apropriado para fechar o evento. Conhecem o tema de O Lago dos Cisnes? A ópera de Tchaikovsky conta história de uma princesa que foi aprisionada no corpo de um cisne e que só poderia voltar à condição normal por um amor verdadeiro e único... Este amor, um belo príncipe, apareceu, mas a maldade humana somada à feitiçaria traçam artimanhas que roubam o amor da princesa e esta se torna cisne para sempre. Os dois morrem ao final...
Durante a parada, eu vi muitas Odettes (a personagem central da ópera). Homens e mulheres que conseguiram romper a carcaça do cisne e se mostrar para a vida como são de fato. Estes, ao contrário do que diz a ópera, venceram a maldade e subjulgaram os atabaques que eventualmente poderiam estar soando contra uma união ainda condenada por muita gente. Poxa, quem não gosta de ver a felicidade estampada no rosto das pessoas? De saber que o simples gesto de andar de mãos dadas pode representar a vitória sobre o fardo de toda uma vida infeliz, subjulgada? Vi jovens e vi velhos ostentando o carinho como a um troféu olímpico. E eu senti orgulho de saber que a minha cidade de coração (já que “adotei” Sampa como minha terra) abriu as portas para uma manifestação tão grandiosa e despretensiosa do ponto de vista comercial. Mais do que isso. Valorizando a vida e tudo o que de melhor ela oferece: o amor pleno, seja ele como for experimentado, vivido ou degustado. Justamente, este foi o tema da Parada Gay deste ano: “Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia”.
Vi muita brincadeira, muitos sorrisos, muita dança, acenos e beijos. Vi também olhares indignados, duvidosos e reflexivos. Normal. Faz parte. Acho que as pessoas, mais do que procurarem entender, aceitaram o que certas correntes da psicologia, da psicanálise ou seja lá o que for diz: a vida humana não comporta mais apenas dois sexos. Ou melhor, nunca comportou. O que vemos hoje é o emergir do terceiro, quarto sexo. Muitos dizem até algo como a “pansexualidade”. E por aí vai...
Eu aceito tudo isso numa boa, sem preconceitos. E sem querer ser moralista, falo também do “outro lado” da festa colorida deste domingo... Eu vi cenas que deixariam o povo de Sodoma e Gomorra no chinelo. E fiquei me questionando o por quê. Foram manifestações desnecessárias e que fugiam completamente do propósito do evento. Por exemplo: casais de meninos que se agarravam em beijos “arranca língua” em frente às senhoras em pé nas calçadas que ali se encontravam simplesmente para prestigiar o evento; rapazes com bundas de fora, ou abaixando as calças para o público e travestis que provocaram a plateia chacoalhando peitos inflados por silicone industrial (na maioria dos casos). Vi muita coisa assim que beirou o extremo da apelação, da provocação barata a pessoas que, como os participantes da Parada, dispostos a se divertirem e a avalizarem um contexto sublevado. Afinal, os mais turrões, os homofóbicos, não perderam mesmo o seu tempo para ver parada alguma.
Assim, o que me ocorreu é que, infelizmente, muitas daquelas pessoas não souberam fazer uma festa bacana. Não souberam se colocar, não tiveram classe alguma (e para isso não precisa ter dinheiro, basta ter educação, berço), não respeitaram para ser respeitados. Uma pena. Eu me lembrei das minhas calopsitas. Algumas vezes já abri a gaiola para elas voarem livres pela casa. Mas elas não saem da gaiola, não por não terem liberdade, mas por não saberem fazerem uso dela.
Então, resumindo, ainda tem muita Odette que merece o confinamento imposto pelas penas do cisne, pois não aprenderam a valorizar as asas que a vida já lhe concedeu!

Um beijo grande da Lorena Lee

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