segunda-feira, 4 de abril de 2011

Meu adorável francês

Já ouviu falar dos speed-dating (encontros rápidos), moda nos programas de TV americanos? Aqui, no Brasil, a coisa ainda não caiu no gosto da mídia e, conseqüentemente, do povo. Li na internet uma matéria muito engraçada sobre o assunto. E foi o que me fez lembrar uma situação que vivi o ano passado, quando fui a Paris, numa viagem de trabalho. Uma daquelas experiências que nos inebriam apenas com a recordação.

Vejam só, o objetivo do speed-dating é promover a união entre mulheres ricas e maduras com rapazes jovens e atraentes (hummmm, baby beef!!!). Por isso, as candidatas têm de estar acima dos 35 anos e ganhar, pasmem, pelo menos R$ 873 mil (US$ 500 mil) por ano ou então ter no mínimo R$ 7 milhões (US$ 4 milhões) em bens. Os pré-requisitos para os rapazes são bem mais flexíveis: ter menos de 35 anos e com corpinho e beleza de fazer inveja ao Brad Pitt.

Uma das participantes, Gail Garrison, de 44 anos, disse que "os rapazes mais novos esperam que a mulher mais velha seja mais completa. Eles procuram você porque você é inteligente. Eles não estão procurando uma mãe". Já o organizador do encontro Jeremy Abelson, de 27 anos, declarou: "Eu acho que isso é uma fantasia masculina (estar com uma mulher mais velha)". "Mulheres mais velhas são mais experientes e sabem o que querem."

Em Paris, foi exatamente isto que comprovei. Embarquei rumo à “Cidade Luz” completamente desprovida de qualquer ambição romântica. Estava focada no trabalho que deveria realizar ali. Captar, com minha máquina fotográfica, ângulos diferenciados da cidade, personagens interessantes e, claro, belas paisagens. Compenetrada neste olhar, mal cheguei ao hotel, troquei de roupas, coloquei o tênis, peguei a câmera e saí para aproveitar a luz do entardecer. A cidade de Piaf, Chanel, Molière e tantos outros... da Torre Eiffel, do Montmartre, do Sacré Cour, da Catedral de Notre Dame, do Museu do Louvre e da Champs Elysées definitivamente exala sensualidade a cada esquina. E foi com esta sensação fantástica que caí na cama, absolutamente exausta, após circular pelas ruas até quase 2h da madrugada.

No dia seguinte, teria de fotografar a fachada do Moulin Rouge (um dos mais famosos cabarés franceses). Sabia também que me renderiam boas fotos uma visita às ruas Pigalle, Badapeste, Fontaine e Sèze. São nelas que prostitutas à moda antiga ainda circulam com perucas tipo chanel loiras e casacos de pele. Quem assistiu ao filme Pigalle, de Karim Dridi, sabe bem do que eu estou falando. Precisava de imagens urbanas noturnas para fazer um contraponto com os grandes monumentos históricos de Paris. Mas, como isto seria um roteiro para a noite, decidi ir para algum parque, captar personagens.

Cheguei ao Bois de Vincennes lá pelas 11h30 da manhã; havia planejado ficar por lá até umas 17h30, já que o local não é exatamente seguro à noite. Já havia estado ali com o Gostoso, quatro anos antes, mas, desta vez, não seria para diversão. Neste bosque, como chamam, cortesãs de meia idade oferecem suas artes sexuais em pequenos furgões, iluminados à luz de velas. Prostitutas, sim, porém elegantes, limpas e um tanto exóticas. Paguei o preço de um programa completo (a transa 40 euros + sexo oral por 16 euros) para fotografar o interior do furgão de Emanuelle e algumas poses suas bem sensuais. Excelentes fotos.

Cansada, procurei uma árvore para tomar uma Perrier gelada e descansar um pouco antes de tocar para a segunda rodada de fotos. Já estava ali há uns 15 minutos, folheando o guia da cidade, quando meu silêncio é interrompido por um latido forte. Um lindo golden retriever dourado havia deixado um ursinho de pelúcia sobre o meu mantô e latia para avisar. Foi enquanto o cão abanava o rabo insistentemente e empurrava seu “bichinho de estimação” mais para perto de minhas pernas (e eu já pensando em fotografá-lo), que ouvi em alto e bom som: “Bissou, ne pás dèranger!”. “Mas ele não está incomodando”, respondi, enquanto elevava o olhar para ver de quem era aquela voz ao mesmo tempo macia e imponente. Ainda bem que estava deitada, senão acho que teria bambeado as pernas.

Phillipe tinha nada menos do que 1,90m, cabelos loiro-escuros, de olhos incrivelmente azuis e pele bronzeada. O nariz bem-feito se destacava no rosto e o sorriso largo despertava imediata empatia. “Je vous dèrange si je m’assois ici?”. “Meu Deus”, pensei. “É isso mesmo que estou ouvindo?!”. “Sim, claro. Pode sentar-se”, respondi. Expliquei que meu francês não era lá essas coisas. Phillipe disse que não se importava em conversar comigo em inglês. Começou a perguntar de onde eu era, o que fazia, etc, com o sotaque mais maravilhoso que já havia ouvido até então.

Entorpecida com o que via e ouvia diante de mim, não consegui prestar muita atenção ao que o rapaz indagava. Phillipe entendeu meu ar pasmo como incompreensão do que dizia e desculpou-se pelo sotaque. “Estou entendendo cada palavra do que você está me dizendo, mas estou absolutamente encantada com a sua presença aqui, com você.”

Phillipe sorriu, meio tímido, e revelou que, na verdade, eu o havia encantado primeiro. Ele me vira chegar ao parque e acompanhara, de longe, a sessão de fotos no furgão de Emanuelle. Queria me conhecer, por isso, mandou que Bissou (beijo, em francês) levasse seu brinquedinho para mim. “Você transpira sensualidade e leveza de espírito a cada movimento, até quando está fotografando, Lorena”. Nesta hora, perdi o chão, não podia acreditar que estava mesmo ouvindo aquilo. Fitei bem aqueles olhos azul-turquesa e me deixei tocar pelos lábios grossos e bem desenhados de Phillipe.

Durante o resto da semana, entre uma sessão e outra de fotos, me entreguei ao prazer com Phillipe, um jovem francês de 23 anos, que acabara de formar-se na faculdade de Gastronomia. Deixei o hotel e passei o resto dos dias com Phillipe e Bissou, num arejado apartamento, com vista para o Rio Senna. À noite, ele me preparava jantares à luz de velas; a cada dia, um cardápio diferente. Fazíamos amor até as primeiras horas da manhã. Phillipe é um amante incrível, carinhoso e gentil. E quanto mais o tempo passa, melhor amante se revela. O fato de eu ser mais velha, segundo ele, é um ponto a favor. Foram dias mágicos e praticamente inefáveis aqueles.

Phillipe é extremamente bem-humorado; é sempre muito divertido estar com ele. Ainda nos vemos uma ou duas vezes por ano e nos falamos todas as semanas, nem que seja ao menos um “Bonjour. Ça va bien?”. Não tenho dúvidas de que amarei para sempre Phillipe, independentemente do tempo ou da distância.

E pensar que tudo começou com um “beijo”... com Bissou... no parque.


(Texto originalmente postado em Brasilwiki)

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