sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sabores e Saudades

Navegando hoje no hoje site interativo de poesias do qual faço parte, o Talentos, vi uma belíssima poesia da Má Antunes (que reproduzo abaixo). Ler "Sabores" me fez lembrar de outra grande poetisa: Clarice Lispector. Doce Clarice. Foi ela que escreveu: "Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida".

Essas duas poetisas nos remetem à reflexão. Saudade dói. Mas pode ser algo delicioso, quando, no fim, pode-se sorver a pessoa amada até as últimas gotas. Mas não sem antes fazer sofrer o nosso "objeto" da saudade. E há mil formas de praticar uma doce tortura. Comece marcando um encontro (quando ele ficar "disponível", claro), depois desmarque em cima da hora. Marque novamente. Adie. Nesse meio tempo, o bombardeie de delicadas cantadinhas picantes, ardentes. Ligue com voz de gata dengosa.. fale da imensa saudade que sente do seu sexo.... seja breve ao telefone. Deixe-o louco a distância... Aí, sim. Agora é hora. Pronta para a fantasia?

No local programado, não vá abrir a porta. Deixe a porta aberta.... Em cima da mesa, um bilhete: "Coloque a venda e espere!!!" Vá ao encontro do ser, sem falar nada (claro que você estará com uma roupa pra lá de sensual). Tire a camisa dele, amarre suas mãos. Comece com lambidinhas safadas no peito, no pescoço, na barriga.... Gire em torno do seu corpo. Deixe ele sentir seus seios, avolumados pelo aperto de um belo corset, tocando suas costas. Leve-o para o quarto e jogue-o na cama. Arranque o resto da roupa dele, dando lambidinhas e chupadinhas ocasionais em cada parte desnuda. Use as unhas, delicadamente, óbvio, mas com precisão em suas partes erógenas. De costas, encoste seu bumbum sobre a barriga dele enquanto tira a peça derradeira: aquela cueca boxer preta que te deixa louca!

Aproveite a bela posição e brinque um pouco com o "garotão", deixe-o arrepiado da cabeça aos pés e implorando por sua boca (e todo o resto...). Só depois disso, repetindo: depois que ele implorar, você pode sorvê-lo com desejo, seja gulosa, mas cuidado para não machucá-lo. Se isso acontece, em vez de tesão, você despertará traumas no gato e não é bem isso que queremos....

Moral da história. Saiba usar seus talentos de mulher, que são muitos, para não ficar amargando saudade. Coma bem o seu homem, assim ele sempre volta.

Beijo da Lorena.


Sabores

Tua ausência
Tange a maldade
Que atiça meu paladar.

Saudade
Tempera tua carne.
Saboreio,
Gosto picante
De estrelas cadentes
Salpicando em meu colo.
Espinhos ferinos
Correndo em minha pele
Ardente, quente,
Cortante.

No sal do teu corpo
Salivo,
Feito loba no cio.

Da ausência, o fel
Apago.
Com beijos salgados
Rejeito esse amargo,
Degustando teu céu.

O acre da partida,
Mato,
Com doce de festa,
Doce do gozo
No doce sabor das palavras,
Aquelas que você não diz
Quando tua boca silente
Se cala na minha.

Na mistura de gostos
Me farto,
Cometo
O pecado da gula.

MÁ ANTUNES
11/03/2011


Um comentário:

  1. Fico muito honrada por ver meu poema aqui postado e pela comparação com a grande escritora Clarice Lispector. Um grande abraço.

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