segunda-feira, 25 de abril de 2011

Versando a vida

Eu sou uma romântica inveterada, pode até não parecer, mas sou. Como o meu talento para fazer de minhas emoções poesia permanece obscuro em algum lugar de minha mente ainda inacessível, busco encontrar doses de meus sentimentos cadenciados em prosa e verso em poemas que não são meus. Gosto de ler estes poemas em voz alta e ao dar som a métricas tão delicadamente cadenciadas, gosto de lembrar de meus amores, do meu amor. E sentir como se encaixam em cada rima, em cada verso... Isto fala ao meu coração e me inspira. Sempre.

O poema tem o poder de despertar emoções desconhecidas, pode nos fazer rir, chorar, acreditar, enxergar, desistir.... E, também, pode nos fazer perceber que o amor ainda está ali, num cantinho qualquer do coração, disfarçado de paisagem nórdica. Mas se mantém firme, apesar do rigor do inverno. Porque é amor de verdade. E quando é assim, vale a pena sucumbir às adversidades e esperar. Quanto tempo? Não sei. Quem sabe?

Mia Couto é natural da Beira, Moçambique. É considerado um dos nomes mais importantes da nova geração de escritores africanos de língua portuguesa. Escreve com paixão. Sua primeira obra foi lançada em 1983: A Raiz de Orvalho. Vencedor de vários prémios, já teve sua obra traduzida para o alemão, castelhano, francês, inglês, italiano, neerlandês, norueguês e sueco.

E é de sua autoria um de meus poemas prediletos:

Confidência

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome

(Mia Couto)

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